Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Mensagens mostram colaboração entre Moro e Dallagnol na Lava Jato, aponta investigação do The Intercept Brasil

Por Jornal O Sul

Neste domingo (9), foram divulgadas mensagens atribuídas ao ex-juiz Sergio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal (MPF) que mostram que os dois trocavam colaborações quando integravam a força-tarefa da Operação Lava Jato. A investigação foi feita pelo The Intercept Brasil. Moro, que atualmente é ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro, foi o juiz responsável pela operação em Curitiba. Em novembro, ele deixou a função ao aceitar o convite do presidente.

​Segundo informações do site, o material foi obtido por meio de uma fonte anônima. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram de 2015 a 2018. Após a publicação das reportagens, a equipe de procuradores da operação divulgou nota chamando a revelação de mensagens de “ataque criminoso à Lava Jato” e disse que o caso põe em risco a segurança de seus integrantes.

Durante as conversas privadas, membros da força-tarefa fazem referências a casos como o processo que resultou na condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no causa do tríplex do Guarujá. Preso em decorrência da sentença de Moro, o petista foi impedido de concorrer à Presidência na eleição do ano passado. A sentença de Moro foi confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A condenação já foi chancelada também pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que reduziu a pena para oito anos, 10 meses e 20 dias de prisão.

De acordo com a reportagem, Moro sugeriu ao MPF trocar a ordem de fases da Lava-Jato, cobrou a realização de novas operações, deu conselhos e pistas e antecipou ao menos uma decisão judicial. Especialistas em direito dizem que a princípio, não haveria nenhuma ilegalidade, mas pode ter havido desvio ético. “Olá Diante dos últimos desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a ordem da duas planejada (sic)”, escreveu Moro a Dallagnol em fevereiro de 2016, referindo-se a fases da investigação. Dallagnol disse que haveria problemas logísticos para acatar a sugestão. No dia seguinte, foi deflagrada a 23ª fase da Lava Jato, a Operação Acarajé.

Em agosto do mesmo ano, depois de decorrido o período de quase um mês sem novas operações da força-tarefa, o então juiz perguntou: “Não é muito tempo sem operação?”. “É sim”, respondeu Dallagnol, segundo o Intercept. A operação seguinte ocorreu três semanas depois do diálogo com Moro.

O material também traz reações à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de soltar em 2015 o ex-executivo da Odebrecht que se tornou delator, Alexandrino Alencar. Os diálogos mostram os membros do MPF e do Judiciário debatendo passos que poderiam levar o delator de volta para a prisão. “Caro, STF soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. […] Seria possível apreciar hoje?”, escreveu Dallagnol. “Não creio que conseguiria ver hj. Mas pensem bem se é uma boa ideia”, respondeu o então juiz. Nove minutos depois, Moro completou: “Teriam que ser fatos graves”. Após ouvir a sugestão, o procurador repassou a mensagem do juiz para o grupo de colegas de força-tarefa. “Falei com russo”, explicou, usando o apelido pelo qual Moro era tratado.

Em 2017, durante outro episódio, o ex-juiz cobrou Dallagnol sobre uma tentativa de adiar o primeiro depoimento de Lula como réu em Curitiba. O pedido da defesa para reagendar o interrogatório acabaria sendo negado mais tarde pela Justiça: “que história é essa que vcs querem adiar? Vcs devem estar brincando”, escreveu Moro ao procurador. “Não tem nulidade nenhuma, é só um monte de bobagem”, continuou.

Uma outra ocorrência da Lava Jato abordada na troca de mensagens é o pedido de entrevista com o ex-presidente na prisão, impedido pela Justiça no ano passado. Conforme as conversas reproduzidas pelo Intercept, procuradores do MPF envolvidos na Lava Jato reagiram com indignação à decisão do STF de autorizar a Folha de São Paulo a entrevistar Lula pouco antes do primeiro turno. Derrubada no mesmo dia, a permissão só voltaria a ser concedida pela corte neste ano — o jornal entrevistou o petista em abril.

No ano passado, no dia da decisão favorável, a procuradora Laura Tessler escreveu no grupo de membros do MPF: “Que piada!!! Revoltante!!! Lá vai o cara fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. E depois de Mônica Bergamo [colunista da Folha de SP], pela isonomia, devem vir tantos outros jornalistas… e a gente aqui fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse…”. Já a procuradora Isabel Groba respondeu: “mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”. Na sequência,Tessler afirmou: “Sei lá… mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”, referindo-se ao candidato que substituiu o ex-presidente na campanha do PT, Fernando Haddad. Outro procurador, Athayde Ribeiro Costa, sugeriu que a Polícia Federal adotasse uma manobra para adiar a entrevista para depois da eleição, sem que tivesse de descumprir a decisão da Justiça: “n tem data. So a pf agendar pra dps das eleicoes. Estara cumprindo a decisao. E se forcarem antes, desnuda ainda mais o carater eleitoreiro”, afirmou Costa.

Em outra mensagem, de março de 2016, Dallagnol cumprimentou Moro pelo fato de o então juiz ter sido destaque em manifestações de rua pelo país que pediam a saída de Dilma. “E parabéns pelo imenso apoio público hoje. […] Seus sinais conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos sistemas político e de justiça criminal. […]”, escreveu o procurador ao juiz. Sergio Moro informou que havia feito uma manifestação oficial sobre o tema. “Parabens a todos nós”, acrescentou.

Na sequência, o ex-juiz emitiu opinião sobre o momento político do país: “Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar mas isso nao está no horizonte. E nao sei se o stf tem força suficiente para processar e condenar tantos e tao poderosos”. As conversas tornadas públicas sugerem ainda dúvidas de membros do MPF quanto à denúncia contra Lula no caso do triplex do Guarujá, que acabou levando o ex-presidente à prisão. ​Alguns dias antes da apresentação da denúncia da Procuradoria, Dallagnol afirmou em um grupo que tinha receio sobre pontos da peça jurídica, como a relação entre os desvios na Petrobras e a acusação de enriquecimento: “falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua”, escreveu o procurador.

Um dia depois, Dallagnol se expressou com entusiasmo ao tomar conhecimento de uma reportagem do jornal O Globo que poderia sustentar a acusação. Durante a noite de um sábado, ele escreveu: “tesao demais essa matéria do O GLOBO de 2010. Vou dar um beijo em quem de Vcs achou isso”. Na véspera da denúncia contra Lula, o representante do MPF afirmou em um grupo: “A opinião pública é decisiva e é um caso construído com prova indireta e palavra de colaboradores contra um ícone que passou incolume pelo mensalão”.

Dias depois, ele comentou em mensagem direta a Moro: “A denúncia é baseada em muita prova indireta de autoria, mas não caberia dizer isso na denúncia e na comunicação evitamos esse ponto”.

Em outro dia, enquanto procuradores eram atacados por causa de pontos considerados frágeis na denúncia, o ex-juiz e hoje ministro enviou palavras de apoio a Dallagnol: “Definitivamente, as críticas à exposição de vcs são desproporcionais. Siga firme”.

O material divulgado pelo Intercept permite também se ter uma ideia sobre o planejamento do repercutido PowerPoint contra Lula, que o procurador do MPF exibiu ao comentar a denúncia: “acho que o slide do apto tem que ser didático tb. Imagino o mesmo do lula, balões ao redor do balão central, ou seja, evidências ao redor da hipótese de que ele era o dono”, escreveu Dallagnol em grupo, dias antes de apresentar a tela com o esquema.​

Veja a declaração de Sergio Moro e Deltan Dallagnol:


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