Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de dezembro de 2025
Para muitos brasileiros, descansar significa gastar tempo diante de uma tela. Segundo uma pesquisa da consultoria Página 3, 35% das pessoas dizem que “não fazer nada” é, na verdade, mexer no celular. Entre os mais jovens, com até 24 anos, o número chega a 53%. O estudo contou com cerca de mil respondentes em todo o País.
Entre os que usam os momentos de descanso para ficar no celular, 40% relatam tédio, culpa ou ansiedade, enquanto quem opta por se desconectar, deitar ou pensar tende a associar o “não fazer nada” a sensações mais positivas. Entre todos os entrevistados, 56% relacionam o ócio ao relaxamento, 6% citam alívio e 7% prazer.
Georgia Reinés, co-fundadora da Página 3, explica que as redes sociais operam em dinâmicas que exploram recompensas rápidas e descargas de dopamina que mantêm o usuário em um ciclo de estímulo e exaustão. “Mesmo com a consciência coletiva sobre os efeitos negativos desse uso, é dificil interromper o movimento infinito do scroll. Para muita gente, entrar e navegar em um aplicativo de rede social é um ato automático e quase involuntário”, detalha.
Segundo ela, o sentimento de culpa nasce justamente dessa contradição entre o saber e o fazer: “saber que aquilo nos drena, mas seguir rolando o feed”, pontua.
A especialista observa que cada rede desperta emoções específicas. “O Instagram tende a acentuar a ansiedade por meio da comparação constante e da exposição a vidas idealizadas. O TikTok, embora mais espontâneo, é talvez a plataforma mais viciante: seu algoritmo apurado com reações imediatas prolongam o tempo de uso e, no fim, também geram culpa pelo tempo perdido. Já o X (antigo Twitter) funciona como uma arena de confronto: intensa e emocionalmente desgastante”, elabora.
A pesquisa também descobriu que 28% dos brasileiros pausam várias vezes ao dia para pensar ou contemplar, enquanto metade diz fazer isso de vez em quando. Mesmo assim, uma em cada cinco pessoas raramente ou nunca se permite esse tipo de pausa.
“Hoje, passar um tempo sem fazer nada é cada vez mais incomum. A tela preenche esses espaços, mas dificilmente traz descanso real. O que deveria ser ócio muitas vezes é absorvido por informações e estímulos digitais, e a sensação de tempo livre se perde”, afirma Reinés.
Ela diz também que um ócio realmente restaurador não é sinônimo de ausência total de atividade, mas requer um ritmo interno mais lento e que permita recuperar energia e clareza. “Isso pode incluir pequenas distrações, como uma música ou uma caminhada pela cidade, mas o essencial é que a mente permaneça livre para que os pensamentos fluam de forma mais espontânea”, comenta.
Ainda de acordo com a especialista, é possível encontrar descanso dentro do ambiente digital, mas isso depende do tipo de estímulo e dos efeitos que ele provoca em cada pessoa. “Séries, filmes, músicas, podcasts e até vídeos no YouTube ou nas redes sociais podem funcionar como ferramentas de descanso, desde que não gerem sobrecarga”, avisa.
Ela diz também que um ócio realmente restaurador não é sinônimo de ausência total de atividade, mas requer um ritmo interno mais lento e que permita recuperar energia e clareza. “Isso pode incluir pequenas distrações, como uma música ou uma caminhada pela cidade, mas o essencial é que a mente permaneça livre para que os pensamentos fluam de forma mais espontânea”, comenta.
Por fim, Reinés recomenda a utilização de dados concretos para acompanhar o uso do celular em aplicativos de monitoramento que, inclusive, podem avisar quando se ultrapassa o tempo definido. “Mas há também sinais no dia a dia, como a dificuldade de estar em um momento de pausa sem recorrer à tela ou, pior, quando se está em uma atividade e ainda assim não se consegue tirar o olho do celular”, alerta. (Com informações do Valor Econômico)