Quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de outubro de 2025
Maria Helena dos Santos Oliveira, a Helena dos Santos, foi uma mulher do povo, humilde e muito pobre. Negra, baixa escolaridade e sem atrativos físicos.
Helena sofreu muito na pobreza da infância e em grande parte da sua vida.
Ainda criança, vivendo com a família em Conselheiro Lafaiete, MG, assistiu a morte da mãe, passando a morar com a madrasta até os 11 anos de idade.
Aos 12 anos mudou-se com uma irmã e o cunhado para o Rio de Janeiro.
Logo, começou a trabalhar em uma fábrica de tecidos, e depois em uma loja de confecções masculinas, onde aprendeu a costurar.
Depois de sofrer um acidente de trem, passou quase dois anos sem trabalhar. Recuperada do acidente, empregou-se como doméstica.
Aos 17 anos, Helena conheceu um jovem, Lauro de Oliveira, o qual trabalhava na mesma fábrica que ela. Namoraram e mais tarde se casaram, tiveram seis filhos. Doze anos mais tarde, o marido faleceu.
Viúva e grávida do sexto filho, Helena viu-se em situação de profundo desamparo financeiro.
Depois de anos fazendo faxinas, retornou à máquina de costura e passou a confeccionar roupas para senhoras, atividade que consumia todo seu dia até altas horas da madrugada.
Tendo feito só o primário, ainda em sua cidade natal, e portanto alheia às convenções gramaticais,
Helena aprendera a forma totalmente empírica de compor músicas e o trabalho com rimas ensinadas por seu falecido marido.
Nos anos 1960, o rock e a Jovem Guarda dominavam o cenário musical juvenil brasileiro, e Helena resolveu compôs músicas neste estilo.
Tomou coragem e foi até a portaria da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, na tentativa de falar com algum interessado em sua música.
Depois vários dias de insucesso, finalmente conseguiu a atenção de um jovem cantor iniciante que ouviu suas composições
Compre minhas músicas, moço, que estou precisando muito de dinheiro.
O jovem cantor respondeu-lhe:
– Vou comprar suas músicas, Helena não para ajudar você, mas porque elas são realmente boas,
Disse-lhe o jovem cantor Roberto Carlos.
A partir daí diversas composições e sucessos foram gravadas por Roberto Carlos.
Uma dessas músicas tem algo especial e chama muita a atenção: O astronauta
Os mais velhos irão lembrar, ouvíamos imaginando um astronauta com suas divagações diante da modernidade e a tecnologia espacial, o que era bem típico para época.
Na minha modesta interpretação a letra foi um desabafo dos sentimentos daquela mulher pobre, viúva que trabalhava sem parar para sustentar seis filhos!
A música quase autobiográfica, onde ela coloca seus sentimentos diante daquela difícil realidade.
Helena deixou-nos muito mais que músicas da “Jovem Guarda”.
Deixou uma aula de vida, trabalho honesto e de fé!
Mesmo que em algum momento tenha pensado em “sumir no espaço” como os astronautas.
O astronauta
Não tenho mais nenhuma razão
Pra continuar vivendo assim
Não posso mais olhar tanta tristeza
Por isso não vou mais ficar aqui
O mundo que eu queria não é esse
O mundo é só de sonhos
Bombas que caem jato que passa
Gente que olha o céu de fumaça
Meu amor não sei por onde anda
Será que os amores já morreram?
Um astronauta eu queria ser
Pra ficar sempre no espaço
E desligar os controles
Da nave espacial
E pra ficar pra sempre
No espaço sideral
Não vou voltar
Pra terra, não, não não vou voltar.
Helena e Roberto Carlos foram amigos durante toda vida, graças a suas músicas e ao amigo cantor famoso, Helena pode ter uma vida melhor, inclusive com casa própria, faleceu em 2005 aos 83 anos.
(Rogério Pons da Silva – Jornalista e empresário – Rponsdasilva@gmail.com)