Segunda-feira, 14 de julho de 2025

A cabeça por trás da campanha “nós contra eles”, do PT, se inspira em socialista dos Estados Unidos

A cabeça por trás da campanha “nós contra eles”, do PT, que usa vídeos feitos com inteligência artificial (IA), é a do jornalista Otávio Antunes, de 47 anos, marqueteiro de ascendência metalúrgica de São Bernardo do Campo (SP) que tem se destacado na comunicação política do partido na esteira do espaço deixado por João Santana, saído de cena após a Operação Lava-Jato.

A estratégia foi classificada como bem sucedida em pesquisas sobre métricas de alcance e vista por integrantes do partido como politicamente exitosa porque, “pela primeira vez, tirou o PT das cordas” na disputa digital com o bolsonarismo. O mote da “justiça tributária” das peças busca isolar o que diz ser “99% da população”, incluindo a classe média, dos “super-ricos” e sugerir que o Congresso está a favor deste 1%.

A ideia é ajudar o governo a ganhar apoio ao projeto de lei que aumenta alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O Congresso derrubou a medida e o Executivo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro do STF Alexandre de Moraes marcou uma audiência de conciliação para esta terça-feira (15).

Adaptação

Integrantes do partido dizem que o plano adaptou linhas de raciocínio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a uma nova linguagem. Antes de se destacar com a inteligência artificial, o PT tentou emplacar “cortes” de discursos de Haddad, que não viralizaram a contento. O ministro defende, por exemplo, a taxação dos “super-ricos” e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

O jogo virou quando a equipe de Otávio Antunes transformou as mensagens de Haddad em histórias contadas com inteligência artificial por personagens falsos que simulam pessoas reais insatisfeitas com injustiças. A avaliação interna foi a de que a estratégia rapidamente quebrou uma “resistência automática” ao ministro e ganhou espaço fora das bolhas petistas.

A inspiração para a estratégia de comprar briga com o topo da pirâmide econômica veio dos Estados Unidos, precisamente do novo fenômeno da esquerda na política nortea-mericana que já incomoda o presidente Donald Trump.

Com uma forte campanha na internet e uma agenda socialista, Zohran Mamdani, de 33 anos, surpreendeu nas prévias democratas no mês passado e será o candidato do partido na próxima eleição a prefeito de Nova York. A campanha do deputado estadual em primeiro mandato explorou propostas que vão do congelamento de aluguéis à gratuidade no transporte público.

Para bancar os benefícios, prometeu sobretaxar nova-iorquinos que ganham mais de US$ 1 milhão por ano. O discurso levou a uma vitória retumbante sobre o veterano Andrew Cuomo, de 67 anos.

De perfil discreto e indisposto a entrevistas, Otávio Antunes presta serviços ao PT e responde ao deputado Jilmar Tatto (SP), secretário de comunicação da sigla. O marqueteiro é fruto de uma mudança que Tatto impôs na comunicação profissional do partido. Em vez de agências com vínculo meramente contratual, ele preferiu lastrear a comunicação na vida política e partidária.

O histórico de Antunes contempla as duas coisas. Filho de metalúrgico do ABC, viveu breve período em Bofete, pequeno município agrícola do interior de São Paulo, e embrenhou-se na vida partidária em Campinas, ainda nos anos 1990. No início dos anos 2000 tentou ser vereador pelo PT na cidade.

Jornalista formado pela PUC de Campinas, passou por cargos de indicação partidária até migrar aos poucos para o marketing político. Fundou a Urissanê em 2017 e já no ano seguinte entrou em grandes campanhas. Nos pleitos de 2018, 2020 e 2024, assumiu algumas das principais candidaturas do PT e amealhou cerca de R$ 40 milhões pelos serviços prestados no período. Em 2025, já recebeu R$ 800 mil do partido. Interlocutores do marqueteiro afirmam que ele é um produto de João Santana, ex-marqueteiro do PT.

Em 2017, Santana foi condenado no âmbito da Operação Lava-Jato por caixa 2 em campanhas – a sentença foi anulada pelo STF no ano passado. Em pouco tempo no mercado, Antunes trabalhou na campanha de Fernando Haddad (PT), em 2018. Apesar do revés para Jair Bolsonaro (PL), os resultados abriram – e mantêm abertos – espaços para o marqueteiro no mercado da comunicação política da América do Sul. No PT, Antunes trabalha alinhado com Jilmar Tatto, para o qual também fez a campanha de senador, em 2018, e a de prefeito, em 2020.

A nova frente da equipe de Antunes para o PT é com a campanha “Defenda o Brasil”, lançada anteontem, com uma série de peças para atribuir a Bolsonaro a responsabilidade pela decisão de Donald Trump de taxar produtos brasileiros em 50%. (Com informações do Estado de S. Paulo)

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