Quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de outubro de 2025
Quando a COP30 se aproxima no Brasil, em Belém, é imperativo que olhemos ao redor e reconheçamos que os eventos climáticos extremos já não são mais “o que pode acontecer”, mas “o que está acontecendo” neste momento. No Caribe, o furacão Hurricane Melissa se intensificou rapidamente para categoria 5, com ventos superiores a 250 km/h, graças a águas do Atlântico excepcionalmente aquecidas – cerca de 1,4°C acima da média para essa época. Essa tragédia iminente é um espelho da urgência que a COP30 deve traduzir em ação.
Por que essa conexão importa? Enquanto países do Norte Global – as nações historicamente industrializadas – ainda hesitam em apresentar metas ambiciosas concretas, países do Sul Global já enfrentam o caos. O Caribe, com suas ilhas vulneráveis, é a linha de frente. Melissa não é apenas mais um furacão: é a evidência de que essa “nova normalidade climática” chegou. A imensidão da trajetória da tempestade, o volume de chuva estimado em até mil milímetros em algumas áreas, e a intensificação recorde dos ventos ameaçadores, revelam que o aquecimento global está amplificando fenômenos extremos.
Enquanto isso, muitos governos ainda debatem metas para 2030 em vez de implementar mudanças radicais agora. Essa hesitação sustenta a narrativa conveniente de que podemos atrasar e que “a tecnologia resolverá depois”. Mas não há “depois” – há agora. A crise climática exige que os discursos – como os da COP30 – resultem em entregas reais. A convenção poderia e deveria ser o marco de virada, o momento em que deixamos de negociar promessas e começamos a executar ações.
A falha está em confundir diplomacia com procrastinação. Alguns setores econômicos poderosos, ainda movidos pelos combustíveis fósseis, fomentam desinformação ou delay (atraso). Motivam‑se por interesses de manter o sistema centralizado, com lucros concentrados. Em contrapartida, comunidades vulneráveis – como as caribenhas – convivem com tempestades que se intensificam duas ou três vezes mais rápido do que há algumas décadas.
A COP30, portanto, não pode ser vista apenas como evento de diálogo: é teste para nossa capacidade de responder à crise que já chegou. Se governos da Europa ou América do Norte não assumirem responsabilidades maiores – e rápido – quem será penalizado, quase sempre, serão os países do Sul Global: ilhas, zonas costeiras, florestas tropicais, populações indígenas. E o Brasil, por sediar, carrega duplo papel: de anfitrião e de exemplo.
Há esperança. A delegação brasileira tem a chance de mostrar que bioeconomia, preservação da Amazônia e energia limpa não são meros slogans, mas sim trilhas viáveis. O Brasil pode liderar com credibilidade se apresentar metas robustas, investimento em adaptação, proteção de florestas e comunidades com segurança e justiça energética. A COP30 pode ressoar como “virada de chave” ou passar como mais uma conferência que falhou em entregar.
E, para que isso ocorra, é necessário lembrar que cada cidadão, cada comunidade e cada empresa tem papel ativo. A COP30 fornecerá plataforma diplomática e científica, mas a mudança acontece também no cotidiano: escolhas de consumo, ativismo real, educação, compromisso sincero e apoio aos mais vulneráveis.
(Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista pela Transição Energética)