Segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de dezembro de 2025
A indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato à Presidência abriu distância entre o núcleo duro do bolsonarismo e eleitores que ainda não têm o voto definido para 2026. A escolha do filho mais velho de Jair Bolsonaro é alvo de críticas no grupo de indecisos, que tem negado a intenção de voto a qualquer representante da família do ex-presidente. Parte deles tem, aos poucos, avaliado pré-candidaturas de governadores de centro-direita que se colocaram à disposição para a disputa presidencial.
A tendência apareceu na pesquisa Genial/Quaest divulgada na semana passada, que mostrou que o segmento de eleitores independentes, considerado decisivo para 2026 e que deu vitória para o presidente Lula em 2022, tenderia a apoiá-lo novamente no ano que vem (37%) caso ele dispute contra Flávio (23%), apesar de um terço (34%) afirmar que não compareceria ao pleito ou que votaria branco ou nulo. A diferença entre o apoio dado ao pré-candidato de direita e ao petista, no entanto, diminuiu ao serem testados os governadores.
No comando do Executivo de São Paulo e cotado como presidenciável pelo Centrão, Tarcísio de Freitas (Republicanos) teria 29% contra os mesmos 34% de Lula. A distância é ainda menor para Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, que registraria 31% ante os também 34% do petista. Já Ronaldo Caiado (União), de Goiás, teria empate numérico com Lula, ambos com 29%. O único a passar numericamente o petista, entre os eleitores independentes, seria o mineiro Romeu Zema (Novo), que teria 32%, enquanto o petista registraria 31%.
De Salvador, a psicóloga Laís Barreiros, de 33 anos, se coloca contra o lançamento de Flávio e afirma que o senador “só não é pior alternativa que o irmão Eduardo”. Dos Estados Unidos, onde está em autoexílio desde março, o agora ex-deputado articulou por sanções americanas contra o país e autoridades brasileiras. Laís acrescenta que não votaria em nenhum outro candidato da família do ex-presidente ou em Tarcísio, por discordar da “forma de fazer política e dos ideais defendidos pelo grupo”.
As indicações de pessoas próximas a Bolsonaro também são rechaçadas pela estudante de Psicologia Lorena Mendes, de 20 anos, moradora de Manhuaçu (MG). Para ela, a direita “abandonou a esperança de recolocar o Jair no poder e tenta preservar a influência da família no cenário político”. Diz não ver diferença entre os nomes de Flávio e Michelle, mas acredita que a ex-primeira-dama foi preterida porque “dentro do conservadorismo, ainda predomina a lógica patriarcal de que o posto de comando deve ser ocupado por um homem”.
De São Paulo, o atendente da Shopee Vinícius Ribeiro, de 31 anos, afirma que o ex-presidente “manchou a imagem de todo o partido dele” ao ser condenado na trama golpista. O comerciante também criticou Bolsonaro pela violação da tornozeleira eletrônica, ação vista por ele como uma tentativa de fuga, e se colocou contra o projeto aprovado pelo Congresso que reduz as penas dos envolvidos no 8 de Janeiro e beneficia o ex-presidente. Lula disse que vetará.
O mesmo argumento é defendido pela administradora Fabiana Gomes, de Belo Horizonte. Ela não se vê representada por nenhum dos nomes cotados como pré-candidatos, nem mesmo por Romeu Zema, ao qual faz críticas relacionadas à administração estatual, como os processos de privatização de estatais. No passado, conta, ela foi eleitora do PSDB e optou por votar em Lula em 2022 “para tirar Bolsonaro”, mas, para 2026, ainda não tem uma decisão:
— A direita não consegue mais articular nenhum nome palatável, a meu ver. Todos são farinha do mesmo saco.
As opções também são criticadas pelo advogado Benedicto Patrão, de Niterói (RJ), que descreve candidaturas como a de Zema como “um apêndice do bolsonarismo” e afirma que o nome de Ratinho Júnior “não tem expressão nacional”. Ele considera Caiado o candidato “menos pior”, em função de sua experiência como político desde os anos 1980, mas diz não enxergar nele “a expressão política necessária para chegar à Presidência”. Já em Tarcísio, vê um candidato viável e melhor que Flávio e Michelle, mas condiciona o apoio ao afastamento do bolsonarismo.
O apoio ao governador também tem sido avaliado pelo balconista carioca Célio Gomes que admite ainda precisar “estudar” a atuação política de Tarcísio. Além dele, o taxista em São Paulo, Walter Dias, afirma que Flávio “não ganha nada” e que Michelle perderia de maneira “incontestável”, mas vê Tarcísio com chance de ganhar se for para o segundo turno com o petista.
O jornalista Vinícius Portugal, de 23 anos, por sua vez, admite que está com “um pé e meio” em Lula, mas que, nesse meio tempo, os nomes de Ratinho Júnior e Eduardo Leite têm entrado em seu radar. Ele explica que, por serem do PSD, tem expectativa de que representem alternativas “um pouco mais moderadas” e levem uma “visão mais progressista” da centro-direita no pleito. (Com informações do jornal O Globo)