Domingo, 14 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de dezembro de 2025
Se a prisão de Jair Bolsonaro (PL) é algo a se comemorar, não dá para achar que é a pá de cal da extrema direita, diz Manuela d’Ávila, 44.
“Ficou comum a galera interpretar que ela começava e acabava com o Bolsonaro.” Não acaba, e não dá para esquecer que “há uma verdadeira caçada aos sonhos da esquerda” nos últimos anos, afirma.
Na mesma semana desta entrevista, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou sua candidatura a presidente com respaldo paterno. Para Manuela, o movimento explana “a briga do bolsonarismo para ser relevante na extrema direita”.
Recém-filiada ao PSOL, após um quarto de século no PC do B, Manuela pretende concorrer ao Senado em 2026 pelo Rio Grande do Sul. Será sua primeira eleição após duas derrotas consecutivas para a força que considera “a mais nefasta do Brasil”.
Foram pleitos “com um nível de violência inenarrável”, segundo ela, com ameaças de morte, inclusive: em 2018, como vice da chapa presidencial encabeçada por Fernando Haddad (PT), e em 2020, na campanha para prefeita de sua Porto Alegre natal.
Manuela diz que, enfim, ela e a família já têm “condições humanas” para sua volta ao jogo político.
“Não é fácil para uma mulher como eu, que tem a filha ameaçada de estupro desde que nasceu, olhar para [outras mulheres] que estavam juntas com aqueles que ameaçavam e debochavam.” Mas a violência de gênero não discrimina coloração partidária, e nenhum mulher é imune a ela “porque está contra nós”, diz.
Confira principais trechos da entrevista.
Por que sair do PC do B?
Meu casamento com o PC do B deu muito certo: 26 anos filiada a um partido que me deu régua e compasso para interpretar o Brasil.
A gente assimila a palavra “crítica” como algo ruim. Nossa cultura tem muito dessa performance da violência masculina. O dissenso é tratado como ferramenta de destruição, e não construção. Com as mulheres, tenho construído espaços em que a crítica é o que faz a gente melhor.
Algumas questões foram me afastando. A primeira delas é a maneira como se dá a relação com a federação com o PT. Ela tira autonomia dos partidos menores.
E a gente precisa reafirmar a necessidade da construção de amplas frentes contra o que a gente convencionou chamar de bolsonarismo, mas que é a extrema direita —não posso correr o risco de não entender isso porque, diferentemente de outras pessoas, corro risco de vida sob o governo dessa gente.
Por que PSOL agora?
Sou a esquerda dessa frente ampla. Minha filiação [ao PSOL] é o sinal que quero dar num tempo em que afirmam que o certo é a saída pragmática, que apaga as características ideológicas. Tem uma verdadeira caçada aos sonhos, ao que representa a esquerda.
Por que diz que a extrema direita é maior do que o bolsonarismo?
Bolsonaro acumulou o que pregavam organizações anteriores, como é o caso do MBL, que sempre gosta de fazer de conta que é liberal, mas que deu origem à extrema direita mais nefasta do Brasil.
Ficou comum a galera interpretar que a extrema direita começava e acabava com o Bolsonaro. Essa leitura carrega riscos: a prisão do Bolsonaro seria o fim deles. Óbvio que a condenação é uma vitória importantíssima para nossa democracia. Mas entendo que o Bolsonaro foi eleito, que o Pablo Marçal teve performance extraordinária na eleição de São Paulo “contra tudo e contra todos”, né? Contando ali com um discurso que a gente pode refutar, mas que tinha ideias. A gente viveu também uma derrota de ideias.
Por que diz que a extrema direita é maior do que o bolsonarismo?
Bolsonaro acumulou o que pregavam organizações anteriores, como é o caso do MBL, que sempre gosta de fazer de conta que é liberal, mas que deu origem à extrema direita mais nefasta do Brasil.
Ficou comum a galera interpretar que a extrema direita começava e acabava com o Bolsonaro. Essa leitura carrega riscos: a prisão do Bolsonaro seria o fim deles. Óbvio que a condenação é uma vitória importantíssima para nossa democracia. Mas entendo que o Bolsonaro foi eleito, que o Pablo Marçal teve performance extraordinária na eleição de São Paulo “contra tudo e contra todos”, né? Contando ali com um discurso que a gente pode refutar, mas que tinha ideias. A gente viveu também uma derrota de ideias.
Que ideias foram essas que triunfaram?
Marçal, por exemplo, põe no centro do discurso a negação do Estado e a violência como ativo importante da resolução dos conflitos sociais. Não é qualquer coisa. Veja o que acontece com as mulheres agora. Muitos setores menosprezaram os discursos violentos contra mulheres. Com informações da Folha de São Paulo.