Quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A face do lixo e o retrato da nossa consciência coletiva

Como vereadora, concentro meu trabalho nas pautas locais, da zeladoria básica ao debate maior sobre o futuro urbanístico da cidade, porque acredito que Porto Alegre precisa evoluir de forma responsável e planejada. Falo do Plano Diretor, da mobilidade, das políticas públicas que moldam o cotidiano, mas também falo do básico que muitos insistem em ignorar. Zeladoria não é detalhe, é fundamento. E quando ela falha, quando a cidade é tratada com descaso, isso revela muito mais sobre nós do que sobre qualquer administração pública.

O problema do lixo em Porto Alegre é um sintoma grave de uma falta crescente de consciência coletiva. E não há como suavizar isso. Basta caminhar por diversos bairros para ver sacolas rasgadas, cantos tomados por descartes irregulares, restos espalhados em calçadas que deveriam ser de todos. Some-se a isso o vandalismo dos contêineres incendiados e depredados, um ato que, além de criminoso, é um desprezo direto pelo bem público e pelo direito da população de viver em um ambiente limpo e digno.

O descarte irregular tem sido recorrente e, pior, muitas vezes naturalizado. Há quem simplesmente jogue qualquer coisa em qualquer lugar. Há quem ignore totalmente a separação entre lixo orgânico e reciclável, como se isso fosse uma obrigação distante, e não um gesto mínimo de cidadania. E há quem trate o contêiner como um inimigo, não como um serviço que custa caro e que deveria facilitar o cuidado com o bairro. Nada disso é normal. Nada disso deveria ser aceito.

Quando olhamos para o lixo espalhado pelas ruas, olhamos para um espelho incômodo. O lixo é o reflexo da população e da forma como escolhe se relacionar com a cidade. E a impressão que a nossa capital está transmitindo é dura. Uma Porto Alegre que quer ser moderna, vibrante e acolhedora, mas que ainda convive com comportamentos incompatíveis com qualquer projeto de desenvolvimento urbano sustentável.

Luto pelos nossos bairros porque sei que uma cidade melhor começa na esquina de cada um. Defendo políticas públicas de educação ambiental, fiscalização e infraestrutura adequada, mas também cobro responsabilidade individual. Não existe reforma urbana que resista ao descaso cotidiano. Não existe Plano Diretor capaz de compensar a falta de cuidado básico do cidadão com o próprio espaço de convivência.

Precisamos, urgentemente, reconstruir o pacto de pertencimento entre porto-alegrenses e sua cidade. É possível, é necessário e é um compromisso que assumo diariamente no meu mandato. Porto Alegre merece ser tratada com respeito. E respeito começa pelo que fazemos com o lixo que produzimos.

Vera Armando, Vereadora de Porto Alegre, Jornalista e Publicitária
Instagram: @veraarmando.rs

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