Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de outubro de 2025
Sabe aquela fofoqueira da sua rua? Claro que você sabe…
Toda rua tem uma. A maioria com características similares, como se fosse um padrão de fábrica. Se não tem, desconfie… talvez a mesma seja você.
Vamos trabalhar com uma personagem fictícia, inspirada em alguém da vida real. Chamaremos ela de “Dona Lalá” para preservar a identidade da verdadeira artista destiladora de veneno.
A mulher é um radar humano. Vê tudo, comenta tudo, sabe de tudo – ou, pelo menos, acha que sabe mesmo quando não sabe de nada. O importante são as conclusões que tira e as narrativas que cria em cima de cada movimento que vê.
Se o vizinho chega tarde, é porque está traindo a esposa. Se sai cedo demais, é porque não dá atenção para ela. Se chega ou sai em horários estranhos, deve estar envolvido com algo ilícito.
Se comprou um carro novo, deve estar roubando ou está envolvido em alguma falcatrua. Se reformou a casa, então, deve ter ganhado na loteria, enganou alguém ou recebeu uma herança.
O curioso é que, se um caminhão encostar na frente da tua casa e levar tudo embora, a única testemunha que não viu nada será justamente ela, não tenha dúvida disso!
Dona Lalá é o tipo que transforma suspeita em manchete e opinião em sentença. A janela da sua casa é um verdadeiro mirante, onde mantém uma fresta aberta 24 horas por dia para acompanhar os acontecimentos da rua.
Faz do portão na sua casa um púlpito, onde junta cadeiras e se reúne com suas aprendizes, um verdadeiro confessionário, onde só ela absolve e condena os alvos da fofoca do dia.
Às vezes, seu veneno é apenas um tempero leve de maledicência, bom até mesmo para render algumas risadas no café da tarde.
Mas há dias em que a língua vira lâmina, e o que começa como “brincadeira” termina machucando ou prejudicando alguém que não estava lá pra se defender.
Ela se diz “sincera”, “observadora” ou “preocupada com o bem dos outros”, muitas vezes tem até um ar de boazinha. Mas a verdade é que, quem vive cuidando da vida alheia, esquece de cuidar da sua, mesmo cheia de problemas reais dentro de sua própria casa.
A torcida, sempre está presente
As fiéis ouvintes de Dona Lalá acreditam estarem protegidas da sua língua venenosa, como se o veneno poupasse quem o aplaude. Mal sabem elas que, quando a conversa muda de esquina, também viram prato o principal.
A diferença é que ninguém tem coragem de contar o que já ouviu a respeito delas, ditas pela própria mestra das maledicentes.
Não é necessariamente uma regra, mas, geralmente, essas mulheres são casadas, mal amadas, rancorosas, mas tentam parecer felizes, ostentam sorrisos e simpatia, como se suas vidas fossem um mar de rosas.
Fingem estar sempre dispostas a ajudar, mas a única intenção é se aproximar para observar, colher informações e avaliar o que você tem ou deixa de ter.
Muitas vezes, até ajudam, mas observam tudo, elogiam, mas registram. São um tipo curioso de espiã doméstica: sorridente, atenta e carente de propósito.
No fundo, toda fofoqueira é uma alma entediada tentando preencher o vazio das próprias ausências com o barulho da vida dos outros.
E o mais triste é que, enquanto falam de todo mundo, ninguém realmente fala delas, a não ser pra dizer: “Tu viu o que a Dona Lalá disse hoje de fulano?”.
Conclusão
Fofoca é igual perfume barato: se espalha rápido, dura pouco e deixa rastros. E quando o vento muda, o cheiro volta pra quem o espalhou, uma lei natural do universo…
Como diz nas Escrituras: “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.” (Provérbios 18:21)”.
Portanto, não se preocupem com as ” Donas Lalá da vida”. O universo, ou o próprio Deus, se preferir, sempre se encarrega de devolver a cada um o sabor do fruto que plantou, o amargo do próprio veneno.
Ignore, sorria e siga em frente. A fofoca só tem poder quando encontra ouvidos dispostos, ou almas fragilizadas que se deixem abalar pela mesma.
Todos nós temos uma Dona Lalá em nossas vidas, e é preciso aprender a se guiar e sobreviver a elas.
Temos desafios maiores e coisas muito mais importantes para viver do que o ruído da língua alheia, que, a cada destilada de veneno, cela seu próprio destino e consequência.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho