Domingo, 14 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de dezembro de 2025
Até algumas semanas atrás Donald Trump apontava o dedo para Putin como o principal culpado pela continuidade da guerra contra a Ucrânia e subia o tom das ameaças de possíveis novas sanções contra a Rússia. A comunidade europeia aplaudia e aguardava pelas novas respostas. A Ucrânia apesar de abalada e dependente conseguia respirar com este oxigênio vindo da América. Putin se mantinha irredutível nas excelentes condições que ele propunha para o eventual acordo e parecia não tomar conhecimento das ameaças vindas da Europa e Estados Unidos.
Sem lógica aparente, os Estados Unidos mudaram de posição e começaram a declarar que o acordo deveria ocorrer em bases que eles mesmos criticavam anteriormente, imputando à Ucrânia a responsabilidade pela não conclusão do acordo. A Rússia está adorando este novo posicionamento e, mais do que nunca sentindo-se dona da situação em que pese a relutância da comunidade europeia. Todos sabem que sem a ajuda estadunidense é inviável a sobrevivência da Ucrânia a médio prazo. Apesar dos problemas sérios e recorrentes da política ucraniana e que a maioria de seus governantes não primam pela transparência e honestidade, qual foi o motivo desta guinada por parte dos Estados Unidos? Rússia e China não compraram a briga a favor de Maduro. Quando esperava-se que os países fossem declarar total apoio moral e logístico ao ditador venezuelano, ficaram apenas em discretas e ineficazes declarações posicionando-se contra quanto à intervenção estadunidense na Venezuela.
A frota dos Estados Unidos foi aumentando na região do Caribe, foi dada autorização para a C.I.A (Central Intelligence Agency), agência de inteligência que atua fora do território dos Estados Unidos a operar em solo venezuelano para combater o narcotráfico. Além de não reconhecerem Maduro como presidente legítimo da Venezuela, os Estados Unidos atribuem a ele o comando do famoso cartel de Soles, um dos principais grupos de narcotráfico do mundo. Até o momento, tudo indica que os barcos afundados pela força militar americana no Caribe realmente estavam associados ao narcotráfico e tudo indica que este cartel tem operações e instalações na Venezuela com a leniência ou até favorecimento do governo. Neste aspecto a atuação coordenada por Donald Trump é louvável e necessária.
A permanência de Maduro no poder parece inviável e insustentável, mesmo porque os aliados mais fortes, a saber, China e Rússia estão bem discretos. A partir daí o desenho vai tomando forma, ou seja, os Estados Unidos favorecem a Rússia e indiretamente a China no acordo com a Ucrânia, salientado que nos moldes propostos é muito favorável à Rússia e interrompe a remessa de dinheiro do contribuinte estadunidense para manutenção da guerra, com o compromisso velado de dois inimigos de não interferirem na estratégia de Trump no combate ao narcotráfico e retirada de Maduro do poder. Até o Brasil está adotando postura mais cautelosa quanto à Venezuela porque também tem interesse na melhoria de relação com os Estados Unidos.
Voltamos a ressaltar que o combate ao narcotráfico é louvável e extremamente necessário e, Donald Trump parece disposto a atuar neste sentido, bem como a retirada de um reconhecido ditador que se mantém no poder através de eleições contaminadas e questionadas por vários países também seria bom para o povo venezuelano que parece não ter mais força para lutar, todavia não podemos esquecer que a Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo, que atrai olhares interessados de muita gente poderosa, influente e rica.
Devido às dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela, só 10% do petróleo que poderia ser extraído de seu território atualmente ocorre. Estamos falando de bilhões e bilhões de dólares que podem aparecer rapidamente com investimentos externos. Qual a empresa que tem confiança de investir hoje na Venezuela? Se isto vai reverter em benefícios ao povo da Venezuela não se pode assegurar, mas muito provavelmente iria atenuar a miséria na qual vive a maioria dos venezuelanos. Pessoas revirando o lixo para poder comer alguma coisa, falta de remédios, luz, água, liberdade de expressão e perspectiva de melhora tem provocado êxodo da população para outros países.
Estima-se que na última década quase 8 milhões de pessoas deixaram o país, lembrando que a população é de 28 milhões. O Judiciário é controlado pelo ditador, a oposição e imprensa sitiadas e as forças armadas quando não são dominadas pelo governo são intimidadas pelas guerrilhas comandadas por Maduro. Isto tudo bem próximo aos Estados Unidos.
Desejo a todos um ótimo Natal e próspero 2026.
Dennis Munhoz é jornalista e advogado, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos.