Sábado, 02 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de maio de 2025
A Advogada Renata Pimentel, filha do desembargador Sideni Soncini Pimentel, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, recebeu R$ 920 mil em propinas para o pai, de acordo com a Polícia Federal. Ainda segundo o órgão, o dinheiro foi repassado em troca de um voto favorável à venda da Fazenda Santo Antônio, em Corumbá, avaliada em R$ 20 milhões.
A fazenda estava em inventário e a transmissão de propriedade só foi possível graças a uma decisão da 4.ª Câmara Cível. Sideni era o relator do processo. Os desembargadores Vladimir Abreu da Silva e Júlio Roberto Siqueira Cardoso (aposentado) também participaram do julgamento, em maio de 2024. “Entendemos ser fruto de corrupção dos desembargadores citados”, afirma a Polícia Federal.
Os magistrados estão afastados das funções desde a Operação Ultima Ratio, deflagrada em outubro de 2024. O conselheiro Osmar Domingues Jeronymo, do Tribunal de Contas do Estado, e os desembargadores Alexandre Aguiar Bastos e Marcos José de Brito Rodrigues também estão fora dos cargos por ordem judicial.
Os afastamentos foram prorrogados no último dia 22 pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da PF.
Em representação de 281 páginas enviada ao ministro, o delegado federal Marcos André Araújo Damato, da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor) da PF em Mato Grosso do Sul, detalha um suposto esquema milionário de venda de sentenças no TJ. O documento transcreve diálogos indicando como magistrados e advogados articularam nos bastidores decisões relativas a propriedades rurais de grande valor.
Renata não advogou para nenhuma das partes no espólio da Fazenda Santo Antônio. Mensagens encontradas no celular dela, no entanto, revelam diálogos no WhatsApp com o advogado Júlio Greguer Fernandes, que atua no processo, para viabilizar a liberação da propriedade. “Tamo junto nesse inventário, né? (sic)”, escreve a advogada em uma das mensagens. Em outra conversa, os dois marcam um encontro e Renata pede a Júlio que chegue antes para “acertar nosso ganha pão”.
Outro advogado procura Renata para conversar sobre o espólio. Trata-se de Gabriel Affonso de Barros Marinho, constituído pelo comprador interessado na Fazenda Santo Antônio.
Segundo a PF, a advogada recebeu R$ 530 mil repassados via Pix pelo escritório de Júlio Greguer e R$ 390 mil pelo comprador da fazenda. No dia seguinte, ela transfere R$ 200 mil para o sócio, Fábio Pinto de Figueiredo. Para justificar a transferência, Renata envia o rascunho de um contrato de prestação de serviços jurídicos em nome do sócio para a “finalidade específica de obter a concessão de alvará para venda” da fazenda.
As conversas e pagamentos ocorreram em outubro 2022. O recurso só foi julgado pelos desembargadores em maio de 2024. Segundo a PF, “o lapso temporal entre tais datas (um ano e sete meses) não afasta a conclusão acima pois era necessário o andar do processo de inventário para que a questão fosse novamente submetida à câmara cível de Sideni Pimentel”.
Para a PF, há provas suficientes de corrupção dos desembargadores. Cabe à Procuradoria-Geral da República decidir se oferece ou não denúncia. As informações são portal Estadão.