Sábado, 11 de outubro de 2025

A política do espetáculo e a era da “tiktokzação” parlamentar

A política virou palco, e o palco substituiu o debate por performance. No tempo das redes, tudo é curto, rápido e descartável – até as convicções.

Vivemos tempos líquidos, como alertou Zygmunt Bauman. Tempos em que tudo se dissolve – valores, compromissos, ideias. A política, que deveria ser o espaço do diálogo e da construção coletiva, virou um grande espetáculo de autopromoção. Hoje, os discursos são moldados para o TikTok, e as convicções, para o algoritmo.

O Parlamento, antes casa do debate, virou estúdio de gravação. Em vez de projetos debatidos, vídeos de 40 segundos. Em vez de ideias consistentes, frases de efeito embaladas por trilhas virais. A “tiktokzação” da política transformou a atividade parlamentar em disputa de engajamento: quem fala mais alto, aparece mais; quem pensa mais fundo, desaparece.

No Rio Grande do Sul, essa lógica encontra eco na nossa velha cultura do Grenal. Tudo é polarizado: ou se está “de um lado” ou “do outro”. E, como nos clássicos do Beira-Rio e da Arena, poucos querem ouvir – a maioria quer vaiar. Só que o Estado e o País não se governam com a paixão das arquibancadas. Governam-se com razão, diálogo e responsabilidade.

Enquanto isso, temas sérios – o desenvolvimento regional, a crise fiscal, o desemprego, a educação – ficam em segundo plano. É mais fácil produzir um vídeo indignado do que estudar o orçamento. Mais fácil fazer pose do que propor soluções. Mais fácil encenar do que enfrentar a realidade.

Mas a democracia não cabe em 40 segundos. Exige tempo, escuta, reflexão e coragem. Precisamos resgatar a política dos que liam, estudavam, debatiam, dos que defendiam causas e não curtidas. Dos que tinham lado, sim, mas lado de ideias, não de hashtags.

O Rio Grande precisa de lideranças que inspirem, não que performem. Que representem causas, não algoritmos. Que saibam que a política é um compromisso com o futuro, não uma estratégia de engajamento.

A política do espetáculo pode gerar visualizações, mas não entrega resultados. Likes não constroem estradas, não criam empregos, não melhoram escolas. O que transforma é trabalho, seriedade e visão.

No fim das contas, a democracia precisa menos de influenciadores – e mais de líderes.

* Guto Lopes, comunicador da Rede Pampa 

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