Segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A Pré-COP30 em Brasília: entre convergências e tensões rumo a Belém

Na última semana, Brasília tornouse palco da fase preparatória mais intensa da 30ª Conferência das Partes – a pré-COP da COP30 realizada entre os dias 13 e 14 de outubro. Esse tipo de encontro, que antecede a conferência principal a ser realizada em novembro em Belém (PA), serve para afinar posições ministeriais e diplomáticas, antecipar impasses e desenhar os contornos do que poderá ou deverá ser tratado no evento maior.

O que é uma pré-COP e por que é tão importante?

A pré-COP não integra o calendário formal da UNFCCC, mas funciona como uma reunião estratégica de ministros, negociadores e observadores – destinada a encaminhar os debates técnicos e políticos antes da fase plenária da COP30. Semana passada em Brasília, o objetivo foi claro: fortalecer o multilateralismo, alinhar as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) à meta de limitar o aquecimento a 1,5 °C e acelerar a implementação do Acordo de Paris. Ao concentrar essas discussões preparatórias, o Brasil – como país anfitrião – tenta garantir que Belém não seja apenas mais uma cúpula de anúncios, mas um momento real de entrega e de avanços concretos.

O que foi tratado – e onde ficaram as tensões

Na préCOP foram debatidos temas centrais: financiamento climático, transição energética, adaptação aos impactos do clima e o mecanismo do Balanço Global (GST – Global Stocktake). A ministra Marina Silva, durante a abertura, enfatizou que agora é impossível pensar apenas localmente; a crise exige ação local e global. Já o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destacou que esta COP precisa ser de implementação ou seja, se espera menos discurso e mais entrega da Nações.

Contudo, não foram poucas as disputas. Um dos momentos mais sensíveis envolveu a Arábia Saudita, cujo representante protestou quando o mecanismo de transição do GST foi associado à retirada de combustíveis fósseis. Essa resistência das nações produtoras sinaliza claramente que a COP30 ainda enfrentará vetos robustos à transição energética estruturada.

Por outro lado, a cooperação da China se destacou como fator positivo: o país reafirmou que apresentará uma nova NDC até 2035, cobrindo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia — um movimento visto como um avanço notável.

Crítica aos Estados Unidos e os custos da inação

Enquanto isso, os EUA têm recuado em sua liderança climática: a decisão de retirarse do Acordo de Paris e enfraquecer órgãos de diplomacia climática como o Office of Global Change do Departamento de Estado reflete um distanciamento que pode custar caro. Em momentos nos quais o mundo avança rumo à baixas emissões e colaboratividade, esse desdém reduz o peso americano nas negociações e abre espaço para atores como China e Brasil abocanharem protagonismo.

Metas e expectativas para Belém

Para a COP30 em Belém, o alinhamento das NDCs, o avanço em financiamento climático e a definição de métricas robustas de adaptação são pilares. Esperase que a cúpula reúna chefes de Estado e acelere decisões em torno da transição justa, dos combustíveis sustentáveis e da proteção das florestas, águas e Biodiversidade. A projeção é que o evento marque uma virada: da negociação para a execução. O embaixador Corrêa do Lago apontou que o legado depende da criação de grupos de países que liderem iniciativas conjuntas sem esperar pelo consenso total”.

A pré–COP de Brasília cumpriu sua função: revelar consensos, antecipar embates, testar articulações diplomáticas e estruturar a agenda para Belém. Ainda assim, o impasse sauditasobrecombustíveisfósseis e o vácuo de ação dos EUA deixam claro que o caminho para a COP30 não será linear. Porém, com a China alinhada ao Brasil e com mais de 160 delegações já mobilizadas para Belém, há algo maior em jogo: a oportunidade de fazer da COP30 não apenas uma conferência, mas um ponto de virada. O planeta – a Amazônia – e nós todos estamos de olho.

Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista pela Transição Energética.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Any Ortiz: “vale a pena os Correios continuarem drenando recursos dos impostos?”
Dilma vive na China, mas custa caro ao Brasil
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play