Quinta-feira, 02 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de outubro de 2025
À medida que a COP 30 se aproxima, o mundo volta a se defrontar com um dilema que já não é apenas ambiental, mas civilizacional. A ciência é clara e alerta que estamos perigosamente próximos de um ponto de não retorno climático, em que mesmo ações enérgicas terão efeito limitado para conter desastres ambientais em escala global. A questão não é mais se devemos agir, mas se ainda teremos tempo suficiente para agir com eficácia.
A contenção dos danos climáticos exige coordenação internacional sem precedentes. Afinal, o clima não respeita fronteiras e nenhuma política isolada pode dar conta do problema. Porém, a realidade geopolítica mostra países em estágios de desenvolvimento distintos, com prioridades domésticas conflitantes e lideranças que variam entre a responsabilidade e a negação. A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, por exemplo, representa mais um fator de instabilidade. Seu histórico de desmonte de regulações ambientais e de descrédito à agenda climática é um obstáculo em um momento em que cada ano perdido torna o desafio ainda maior.
Anthony Giddens já advertia para a dificuldade de mobilização coletiva diante de riscos distantes. Os indivíduos tendem a dar mais peso ao presente do que ao futuro, fenômeno conhecido como “desconto do futuro”. Trata-se de um obstáculo psicológico poderoso, que ajuda a explicar por que, apesar de os alertas científicos soarem há décadas, a mudança climática continua relegada a um plano secundário na vida das pessoas. Poucos parecem dispostos a sacrificar parte do presente por um futuro menos ameaçador.
A verdade é que ainda prevalece a ilusão de que se pode manter o mesmo padrão de consumo e de uso de energia sem pagar um preço. As sociedades modernas se acostumaram à abundância e ao imediatismo, e é sempre mais fácil ignorar o risco do amanhã em nome do conforto de hoje. Mas esse raciocínio está se tornando insustentável: já não se trata mais de prever catástrofes futuras, mas de reagir às catástrofes que estão acontecendo agora. Ondas de calor mortais, enchentes devastadoras e incêndios florestais sem precedentes estão deixando claro que o problema já nos alcançou.
Não podemos mais tratar o debate climático como um tema exclusivo de especialistas, nem como pauta secundária diante de crises políticas ou econômicas. É preciso compreender que, sem estabilidade climática, não há economia, democracia ou projeto de futuro que se sustente. Esse envolvimento de maior número de agentes, num movimento de caráter mais orgânico, se torna ainda mais imprescindível diante do atual desmonte dos órgãos e mecanismos multilaterais de controle. A tarefa é por demais desafiadora para que fique somente nas mãos dos governos, embora esses sejam fundamentais.
O desafio está, sobretudo, em reverter a lógica do adiamento. Se o desconto do futuro é um traço da psicologia humana, cabe aos governos, à sociedade civil e à imprensa encontrar formas de reduzir essa miopia coletiva, tornando o impacto da mudança climática tangível no presente. Educação ambiental, políticas de incentivo a energias limpas, regulação contra práticas poluentes e transparência sobre os custos econômicos da inação são passos indispensáveis. É preciso um choque de realidade ainda mais claro para que o engajamento permeie e atinja todos os setores da sociedade.
O planeta já não negocia prazos. O que está em jogo é a viabilidade da vida como a conhecemos. A COP 30 pode ser mais uma conferência marcada por promessas vagas ou pode ser o marco histórico em que, finalmente, os líderes do mundo optaram por encarar a realidade sem subterfúgios. O relógio climático não para. O futuro, ao contrário do que muitos ainda insistem em acreditar, já começou.
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