Segunda-feira, 18 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de agosto de 2025
Se numa roda de amigos alguém contasse que adultos estão usando chupetas você iria achar que se trata apenas de uma brincadeira ou galhofa dos mais engraçadinhos que querem tirar onda com a cara dos outros. Qual nada… É uma tendência que vem acontecendo na China para aliviar a ansiedade, problemas como insônia e estresse e até para auxiliar na abstinência do fumo.
Há quem diga que a popularidade do item pode ser analisada na psicologia por meio de fenômeno conhecido como regressão, no qual o indivíduo retorna a uma fase anterior como a infância. Por aqui a moda ainda não pegou totalmente, mas nada impede que em breve você veja muito “marmanjo” com o adereço na boca. Afinal, o Brasil é um dos líderes no quesito ansiedade e estresse.
No Instagram vários posts dão conta dessa ‘novidade’ que já se espalhou pela internet e parece que fará pousos em outros países. O assunto é polêmico e até engraçado. Muita gente diz: “vai lavar uma louça ou arrumar o que fazer e outros são mais grossos: “ah vai chupar outra coisa, eu hein. E o que essa ‘outra coisa’ significa deve ficar a cargo da imaginação de cada leitor.
Hábito merece atenção
Opiniões à parte, o assunto é sério e não é excentricidade ou pura diversão. Tem, inclusive, explicação no âmbito da saúde mental. Especialistas alertam que, por trás desse hábito, existem aspectos psicológicos e físicos que merecem atenção. A psicóloga Mariane Pires Marchetti, especialista em ansiedade e autoestima, reforça que o fenômeno revela muito sobre o cenário emocional atual.
“O uso de chupetas por jovens e adultos é um exemplo de como o corpo e a mente buscam mecanismos rápidos de autorregulação diante da sobrecarga emocional. É um retorno simbólico à infância, quando a sucção representava segurança e calma. Isso nos leva a refletir: por que vivemos em um ritmo tão acelerado que até adultos recorrem a objetos infantis para suportar a pressão? É fundamental trabalhar o estresse na sua origem, criando estratégias mais saudáveis e duradouras”, afirma.
Dentes ficam prejudicados
Além da dimensão psicológica, existem também riscos concretos para a saúde bucal. A cirurgiã-dentista Thais Moura, especialista em harmonização facial, considera a tendência, no mínimo, irresponsável’. Ela alerta:”Mesmo na fase adulta, a sucção pode provocar desalinhamento dentário, alterações respiratórias, problemas de mordida, disfunções temporomandibulares e até doenças gengivais causadas pela pressão constante. Usar um recurso para aliviar a tensão, mas que traga outros cinco problemas, não compensa. A melhor abordagem é sempre multidisciplinar, envolvendo odontologia e psicologia”.
Para quem busca alívio do estresse, os especialistas recomendam alternativas mais seguras e eficazes, como psicoterapia, técnicas de mindfulness, prática regular de exercícios físicos e fortalecimento de redes de apoio. Afinal, por mais que uma chupeta possa remeter a um momento de conforto, lidar com as causas profundas da ansiedade é o caminho mais saudável para o bem-estar a longo prazo.
Atalho
Outra profissional também fala sobre o assunto. Fátima Aparecida Silva atua há 24 anos como psicóloga clínica, com especialização em Terapia Sistêmica Familiar e Casal pela PUC-SP. Ela atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias.
“Sabemos que cada pessoa é única e precisa ser vista de forma individual e dentro do seu contexto, mas é possível em linhas gerais considerar algumas motivações. Este comportamento pode ser um atalho, um caminho mais fácil, para anestesiar algo que incomoda, na verdade, uma fuga. Fuga não só do desconforto (ansiedade), mas também do que o desconforto está tentando comunicar. E porque não dizer também uma fuga da forma adulta de administrar a própria vida e resolver o que se apresenta com maturidade, fazendo o que precisa ser feito, mesmo que seja trabalhoso e às vezes demorado”, explica a profissional.
Ela acrescenta que a pessoa deve encarar a realidade, fazer mudanças para melhorar qualidade de vida e das relações, se reconciliar com própria história e se necessário for, buscar ajuda profissional, psicológica e ou psiquiátrica. “Pode existir também uma necessidade de se destacar, chamar atenção, ser visto e fazer parte de um grupo, talvez uma necessidade de pertencimento. Importante dizer que é questionável a eficácia desta iniciativa”, alerta. As informações são do jornal O Dia