Sexta-feira, 05 de setembro de 2025

Advogado do general Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, coloca o ex-presidente no centro do golpe e enfurece aliados

A estratégia da defesa do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, de transferir a responsabilidade por um eventual golpe de Estado para o ex-presidente Jair Bolsonaro provocou reação imediata entre aliados do ex-chefe do Executivo. Durante o segundo dia de julgamento na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal que investiga a tentativa de golpe, a tática de inocentar o general ao implicar Bolsonaro gerou críticas tanto nas redes sociais quanto nos bastidores políticos.

Para o deputado Sanderson (PL-RS), aliado de Bolsonaro, a manobra foi “suicida”:

“Jogou toda a responsabilidade no presidente sem apresentar nenhuma prova. Se era ele o ministro da Defesa e presenciou seu chefe sugerindo um golpe de Estado, por que permaneceu no governo até o último dia? Além de não colar, pegou muito mal para um general quatro estrelas”, afirmou.

Já a deputada federal Rosana Valle (PL-SP) afirmou que a defesa atuou para livrar seu cliente da condenação.

“É lamentável, mas isso não surpreende ninguém, uma vez que, no banco dos réus, alguns acusados são capazes de dizer qualquer coisa para se livrar de uma possível condenação.”

Sob reserva, outros aliados descreveram a estratégia da defesa como “sorrateira” e “desleal”. Há relatos de que a própria família de Bolsonaro teria ficado feito comentários de incômodo enquanto assistia o julgamento, no condomínio em que o ex-mandatário cumpre prisão domiciliar.

Há quem minimize o desconforto. O senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão focou em criticar a ação penal:

“Vejo cada defesa com sua estratégia na busca da inocência do cliente. O fato é que trata-se de um processo viciado, onde uma mesma pessoa investigou, encaminhou a acusação e agora está julgando. Isso só existe em regimes totalitários”, disse Mourão, em referência às críticas de Bolsonaro sobre a condução do processo.

Publicamente, quem puxou o coro de insatisfação foi o ex-secretário de Comunicação e articulador do ex-presidente, Fábio Wajngarten, que compartilhou uma crítica contundente nas redes sociais: “Eu sei muito bem qual era o ‘modus operandi’ dessa turma que vivia no bate e assopra na orelha do presidente. Criavam e distribuíam dentro do Gabinete Presidencial teorias conspiratórias para se manter vivos dentro de suas insignificâncias”.

Apesar de reafirmar respeito às Forças Armadas, Wajngarten destacou que militares do alto escalão “vilanizavam a política” mesmo antes do governo Bolsonaro: “Fizeram campanhas para avançar sobre pastas que sequer dominavam os temas básicos, motivados pelos benefícios que acompanham os cargos. Se deslumbraram por completo com microfones, garçons e motoristas que faziam parte do ‘entourage’ que nunca tiveram. Não aceitarei mentiras neste momento em que sequer o presidente possa se defender”, escreveu.

Paulo Sérgio Nogueira é um dos oito réus do chamado “núcleo crucial” da trama golpista. A defesa buscou afastar sua responsabilidade, apresentando a narrativa de que o general teria atuado para impedir medidas de exceção sugeridas por Bolsonaro. Durante o julgamento, Andrew Fernandes Farias, advogado de Nogueira, afirmou:

“O general Paulo Sérgio atuou para demover o presidente de qualquer medida de exceção. A inocência do general, segundo a delação de Mauro Cid, principal testemunha de acusação, é manifesta.”

O caso remete ao período final do governo Bolsonaro, quando o ex-mandatário e seu entorno teriam traçado um plano para seguir no poder, mesmo após terem sido derrotados nas urnas. Paulo Sérgio, que ocupava o Ministério da Defesa desde 2022 e tinha trajetória consolidada como general quatro estrelas, passou a ser visto como peça central. Para aliados do ex-presidente, entretanto, sua permanência no governo diante de sinais de planejamento de golpe é questionável.

Além do contexto político, o julgamento carrega forte repercussão simbólica. Ele reúne militares de alto escalão, ex-presidentes e a Suprema Corte no mesmo palco, expondo fragilidades institucionais e divergências estratégicas dentro do próprio governo passado. Até o momento, a estratégia de deslocar o foco da acusação para Bolsonaro provocou críticas intensas na base.

A defesa de Bolsonaro, por sua vez, tem sustentado que o ex-presidente não participou de nenhuma tentativa de golpe e que estava fora do país quando ocorreram os atos antidemocráticos do 8 de janeiro de 2023. O julgamento continua na próxima semana, com sessões marcadas para terça-feira, quarta-feira e sexta-feira. (Com informações do jornal O Globo)

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