Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Agradável surpresa

Surpresa – essa foi a expressão mais usada quando o IBGE divulgou o resultado do PIB no segundo trimestre de 2023: crescimento de 0,9%. Não houve um único analista capaz de prever um número tão animador. A maior aposta era um aumento ao redor de 0,3% no período.

Ninguém previu, eu disse? Não. O jornalista Reinaldo Azevedo, mais lulista do que nunca, descobriu que Lula havia feito uma projeção parecida, em entrevista a uma emissora de rádio, no primeiro semestre. Mas isso não conta: todo governante sempre se apresenta assim, radiante de otimismo quanto ao futuro. E não seria Lula – tão grandiloquente quanto às suas realizações – que, de repente, se tomasse de alguma modéstia.

O fato é que a notícia não poderia ser melhor para o governo. Afinal, nunca faltam aves de mau agouro a embaçar o cenário com suas imprecações. Há os que o fazem por convicção, manipulando planilhas, elaborando fórmulas e cálculos mirabolantes. Uma parte importante deles – o buliçoso grupo dos secadores – faz projeções sombrias que coincidam com as suas simpatias políticas.

Isso tem lá sua lógica e pertinência. É assim que o mundo gira. Poucos analisam indicadores da economia com frieza e serenidade. Com certeza há uma mão do governo na surpresa agradável. Mas é claro que nem tudo tem origem nas ações, programas e políticas de Brasília.

Há um componente imponderável no resultado, tantas são as variáveis que entram na conta, e que têm a ver com a dinâmica dos fatos, a forma como eles interagem e se entrelaçam, para o bem e para o mal, para a sorte e o azar. As causas, as razões com frequência estão ocultas e decorrem da complexidade do esforço e da vida produtiva.

O crescimento de 0,9% do PIB trimestral, quando todo mundo esperava 0,3% – vejam – se deu em meio a um tiroteio intenso do governo sobre a ação do Banco Central e do seu presidente Roberto Campos Neto. Não deveria tal embate entre players tão relevantes ter afetado todo o conjunto da atividade produtiva, de modo a causar uma pausa de recuo e prudência entre os agentes econômicos, que é de onde vem o PIB? Em teoria, sim. Na prática tudo pareceu mais uma conspiração improvável – e desta vez virtuosa.

Os indicadores da indústria e dos serviços , no trimestre anterior, apontavam para uma certa paralisia. E quando os mecanismos estão travados, demora tempo para que sejam liberados, de modo a que funcionem na normalidade. Que fatores, então, que mágica fizeram para remover as causas de um trimestre para outro, permitir o livre fluxo e o crescimento?

De todos os lados virão explicações antes insuspeitadas – hora e a vez dos engenheiros de obras prontas. As oposições dirão que o crescimento dos dois primeiros trimestres foi a consequência inevitável da herança bendita do governo anterior. E o governo, na contramão, sustentará que a melhora ocorreu porque foram extirpadas as más práticas e que no lugar da incompetência , da desordem e do caos, entrou a racionalidade, o espírito público e republicano, a defesa dos fracos e oprimidos.

Eu, cá do meu cercadinho, e no meu ceticismo, acho que foi a mão de Deus. A turma aqui embaixo não ajuda muito.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Frente da Agropecuária Gaúcha encaminha socorro do governo federal a agricultores afetados pelas enchentes
Bivar antecipa saída e Rueda deve assumir União
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play