Sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Alerta precoce: Guterres, o mutirão da COP30 e o caminho para virar o jogo

Na última 22 de outubro de 2025, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, fez um alerta grave: “não conseguiremos conter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C nos próximos anos”. Essa meta – definida no Acordo de Paris como o limite seguro de aquecimento em comparação à era pré-industrial (aproximadamente 1850-1900) – era ao mesmo tempo símbolo de ambição e agora se revela cada vez mais difícil de atingir. Com essa perspectiva sombria, a COP30, marcada para novembro em Belém (PA), assume papel central: pode ser o palco da virada ou o registro de mais um adiamento.

É nesse cenário que o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, lançou um mutirão global. Em carta oficial ele convocou países, empresas, comunidades e vozes regionais para “agirem coletivamente e urgentemente” na implementação do Acordo de Paris. Corrêa do Lago fez ainda questão de sublinhar a importância de dar protagonismo aos “círculos de liderança indígena” e às vozes das populações locais, para que a conferência vá além das negociações diplomáticas e “atinja a vida das pessoas”.

A convocação de um mutirão não é apenas simbólica – é uma resposta à própria análise de Guterres, de que estamos numa encruzilhada: ou escolhemos a transição com consciência ou seremos atropelados pela catástrofe climática. A COP30, assim, precisa assumir compromisso claro com ambição, financiamento climático, adaptação – especialmente para o Sul Global – e responsabilidade.

O aquecimento acima de 1,5 °C traz impactos ambientais severos: ondas de calor extremas, proliferação de doenças, enchentes, secas prolongadas, elevação acelerada do nível do mar, colapso de ecossistemas como recifes de corais ou florestas secas, e o risco crescente de “pontos de virada” irreversíveis. Cada fração de grau adicional aumenta não apenas a temperatura média, mas a instabilidade climática, com consequências diretas sobre alimentação, migração humana, biodiversidade e estabilidade econômica.

Na diplomacia climática atual, o termo “Norte Global” é usado para designar os países historicamente industrializados e grandes emissores de gases de efeito estufa, e “Sul Global” para os países em desenvolvimento, muitas vezes vulneráveis e com menor capacidade financeira e tecnológica de adaptação. O princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, sustenta que o Norte tem obrigação maior, mas o Sul – com o Brasil no papel de ator emergente – não pode ficar alheio ao esforço coletivo.

Mas para que isso ocorra, é preciso que a cúpula traga resultados concretos: novas metas de redução de emissões compatíveis com 1,5 °C, avanço no financiamento para países vulneráveis, efetivo reconhecimento do papel das florestas e dos povos tradicionais como protagonistas da solução climática. O Brasil, anfitrião, tem uma rara oportunidade geopolítica: não apenas sediar, mas liderar a diplomacia climática, combinar justiça social, bioeconomia e energias limpas.

Ao final, a reflexão cabe a todos nós: reduzir as emissões de gases de efeito estufa não é tarefa apenas para presidentes, governadores ou prefeitos – é responsabilidade de todas as pessoas, povos e civilizações. Enquanto cidadãos, temos escolhas de consumo, mobilidade, energia, educação e ativismo. Não podemos esperar que outros façam por nós. A virada só será possível se cada um agir. A COP30 pode simbolizar essa mudança – mas a transformação seremos nós que a construímos.

(Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista pela Transição Energética)

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