Domingo, 25 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 24 de maio de 2025
Os nomes de Janja e Michelle estão sendo ventilados por aliados como potenciais candidatas à Presidência no caso de inviabilidade, por diferentes razões, das candidaturas de Lula e Bolsonaro. Trata-se daqueles jabutis da política: notícias que, assim como os quelônios, não têm capacidade de subir em árvores sozinhas e, se lá estão, é porque alguém colocou.
A especulação de que Michelle Bolsonaro poderia substituir o marido, que já está inelegível e pode vir a ser condenado no processo em que é réu por tentativa de golpe de Estado, é mais antiga e já viveu várias fases. No começo, Jair se irritava com a ideia, até proibia o PL de colocar a ex-primeira-dama em pesquisas internas para testar os potenciais sucessores ao seu lugar. Agora, o mesmo capitão passou a dar corda ao nome de Michelle, bem como ao dos filhos.
Tanto a recusa quanto o incentivo denotam o machismo enraizado do ex-presidente: primeiro, ao não admitir sombras à própria liderança; depois, quando o revés parece mais difícil de superar, deixando claro que só alguém completamente submisso a seus desígnios poderá contar com seu apoio.
A especulação sobre a possibilidade de Janja Lula da Silva vir a disputar a Presidência é mais recente e mais desprovida de propósito ainda. Isso porque Lula não só está apto a disputar novo mandato, mas porque, caso a ideia estapafúrdia avançasse, precisaria renunciar ao mandato seis meses antes, tisnando a conquista histórica e inédita de ter sido o primeiro presidente eleito três vezes pelo voto direto, e depois de enfrentar a adversidade de ter sido preso.
O mais surpreendente é que sejam aliados do presidente a alimentar a imprensa com esse balão de ensaio e até a encomendar pesquisas (!) para testar a popularidade de Janja. Tais movimentos só jogam água no moinho da oposição, que faz bullying com Janja desde o primeiro dia e tem investido na tentativa de demonstrar a “bidenização” de Lula. Quem precisa de inimigos se os aliados mesmo se encarregam de fornecer munição farta para o bombardeio?
A especulação de um cenário Janja x Michelle é um desserviço tremendo à discussão séria sobre o necessário aumento da presença feminina na política, disputando espaços de poder como a Presidência da República. Há várias políticas, de diferentes regiões, de praticamente todos os partidos políticos, da esquerda à direita, com diferentes trajetórias de militância e experiência executiva ou parlamentar, que poderiam ser cogitadas, preparadas e apoiadas de maneira séria e respeitosa para pleitear esse e outros postos.
Que só se imagine que quem tem os sobrenomes Lula da Silva ou Bolsonaro possa se credenciar para tanto é dobrar a aposta no personalismo caudilhista que marca a política brasileira historicamente e que, na atual quadra, se cristalizou na polarização entre os dois “maridos” em questão.
Que Bolsonaro, que nunca teve nenhum apreço pelas mulheres (pelo contrário), sempre pautou a vida política pelo próprio umbigo e colocou toda a família para criar nome e patrimônio à custa de mandatos invista nessa ideia é compreensível. No caso de Janja, cabe ao presidente Lula usar a autoridade que tem para instar seus aliados (fãs ou haters?) a parar de brincar com coisa séria num momento em que as crises reais já dão trabalho suficiente.
A sucessão do lulopetismo passa por investir naquelas e naqueles que podem indicar um caminho para a centro-esquerda que faça as pazes com o eleitorado e amplie esse espectro. Não por repetir o mandonismo patriarcal odioso da extrema direita com sinal trocado. Isso nada tem de progressista ou feminista, é só uma caricatura barata. As informações são do portal O Globo.