Terça-feira, 05 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 5 de agosto de 2025
A postura do presidente do PL, Valdemar Costa Neto diante da prisão de Jair Bolsonaro intensificou o mal-estar entre aliados do ex-mandatário, sentimento que já se arrastava desde a imposição das medidas cautelares pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 18.
No primeiro momento, emitiu uma nota curta e protocolar: “Estou inconformado. O que mais posso dizer?”. Após receber críticas, aumentou o posicionamento e chamou a decisão judicial de “exagero”, mas a crise já havia sido instalada.
No entorno bolsonarista, cresce a percepção de que Valdemar tem evitado se comprometer publicamente com a defesa de Bolsonaro, mirando mais a preservação institucional da legenda do que a fidelidade ao seu principal ativo eleitoral.
Nos bastidores, o tom é de frustração. Parlamentares e dirigentes do partido falam em “abandono” e cobram uma postura mais firme. A nota protocolar foi considerada insuficiente. Parte da bancada esperava uma coletiva, ou ao menos um pronunciamento mais incisivo. A avaliação entre aliados é que Valdemar tem evitado se expor em meio ao desgaste.
Por duas semanas, Bolsonaro repetiu a mesma rotina: deixava sua casa por volta das 9h e passava o dia na sede do PL, em Brasília. Segundo interlocutores próximos, Valdemar esteve presente poucas vezes. Na última terça-feira, os dois participaram juntos de uma reunião com a bancada do partido, que tratou das pautas prioritárias para o retorno do recesso parlamentar.
A tensão interna aumentou inicialmente após vir à tona a tentativa de Valdemar de convencer Bolsonaro a suavizar as críticas públicas ao governo dos Estados Unidos, diante do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros anunciado pela gestão de Donald Trump. A informação alimentou críticas de aliados que enxergam na postura do dirigente uma tentativa de “baixar a temperatura” diante de um embate que já consideram perdido.
Valdemar aliviou a pressão ao expulsar do partido um de seus aliados mais próximos, o deputado Antonio Carlos Rodrigues, que havia feito declarações públicas elogiando o ministro Alexandre de Moraes e criticando Trump. A decisão surpreendeu setores bolsonaristas, causando um arrefecimento momentâneo nas críticas internas.
Apesar das cobranças, parte da cúpula tenta minimizar o desconforto. O líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), saiu em defesa de Valdemar:
“Não existe cara mais parceiro do Bolsonaro que o Valdemar”, afirmou o deputado.
A principal queixa dos aliados, no entanto, é a ausência de uma resposta coordenada do partido diante do agravamento da crise. Parlamentares e dirigentes regionais esperavam um movimento mais visível do comando nacional do PL, seja com falas públicas de apoio, seja com articulações jurídicas ou ações estratégicas no campo da comunicação.
Valdemar chegou a emitir uma nota no dia da operação da Polícia Federal, afirmando que as medidas cautelares eram “desproporcionais”. Nessa segunda-feira, após a prisão, divulgou um posicionamento de apenas duas linhas. Após as críticas, publicou uma manifestação maior e disse que a prisão ” soa como vontade de calar uma boa parte da população brasileira que, de forma pacífica, conforme autoriza a constituição, foi às ruas protestar, como permite um regime democrático”. O texto acrescenta que a “medida apenas acirra os ânimos e passa, cada vez mais, um sentimento de exagero no curso do inquérito, mesmo antes de qualquer condenação”.
A postura da direção nacional tem incomodado setores do bolsonarismo que já discutem os próximos passos do partido num eventual cenário sem Bolsonaro em 2026. A avaliação é de que, sem o ex-presidente como figura central, o PL precisará redefinir rumos e lideranças, o que exige desde já algum grau de preparação.
Com Bolsonaro fora do páreo, o PL deve decidir quem será seu nome para a disputa presidencial. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparece como opção ventilada por setores mais moderados, embora enfrente resistência entre bolsonaristas mais fiéis. Valdemar, que controla o fundo partidário e as decisões estratégicas da legenda, é visto como o principal fiador de qualquer transição nesse sentido. (Com informações do jornal O Globo)