Segunda-feira, 29 de setembro de 2025

América do Sul deixa de ser a região do mundo com mais casos e mortes por coronavírus

A América do Sul, duramente atingida pela covid-19, está presenciando uma queda do número de casos e mortes, ao que tudo indica devido à vacinação rápida e ampla, na esteira de uma onda terrível que forneceu anticorpos para as pessoas que não morreram pela doença.

Considerando a média móvel de sete dias, a região agora responde por 5,3% dos casos e 9,6% das mortes no mundo, o menor nível desde o início da pandemia. No pico, no final de junho, a região representava 38% das infecções globais e 44% dos óbitos. Agora, a Ásia é a região que responde por mais contaminações no mundo, com 33% delas, e a América do Norte tem a maior proporção de mortes, 35%, puxada pelo aumento nos Estados Unidos, que voltaram a uma média diária de quase 2 mil mortes.

Uma peculiaridade da América do Sul é que a variante delta, que atrapalhou os planos de reabertura da Ásia aos Estados Unidos, não causou o mesmo impacto. Também existe a presença de cepas contagiosas semelhantes, como gama e lambda, que podem estar mantendo a delta à distância e ampliando a imunidade. A situação é diferente do México, da América Central e de Cuba, onde a delta se consolidou e as outras duas variantes, não.

“A vacinação ocorreu em um ambiente onde já havia um alto nível de transmissão”, disse Lyda Osorio, epidemiologista da Escola de Saúde Pública da Universidad del Valle em Cali, na Colômbia. “Portanto, uma hipótese que se poderia antecipar é que as vacinas se tornaram o ‘reforço’ para pessoas que já haviam sido infectadas e que a imunidade pode durar um pouco mais.”

A América do Sul contabiliza 1,15 milhão das 4,75 milhões de mortes oficialmente registradas durante a pandemia, 24% do total, apesar de ter apenas 6% da população mundial. Mesmo considerando subnotificações, quase 10% da população foi infectada.

A região está acostumada a vacinas contra a febre amarela, malária, meningite e outras doenças, e a covid foi incluída no cartão de vacinação da maioria.

Seis dos 10 principais países da América do Sul administraram pelo menos uma primeira dose da vacina a 50% da população. Chile, Equador e Uruguai completaram a imunização de uma parcela maior dos habitantes do que nos Estados Unidos. Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, 99% dos adultos elegíveis foram vacinados com uma dose e muitos já receberam um reforço.

“Nossa população tem uma cultura de vacinação e não há tanta rejeição como em outros lugares”, disse Maria Teresa Valenzuela, professora da Universidade dos Andes, no Chile, e assessora do Ministério da Saúde. “As pessoas têm sido responsáveis em obedecer aos apelos das autoridades, e o processo tem sido ordenado em termos de idade, grupos de risco e de encontrar lacunas onde há atraso. A onda brutal de covid-19 que atingiu a América do Sul no primeiro semestre de 2021 ocorreu em meio a lentas campanhas de vacinação devido a restrições de oferta e logística. A certa altura, o Brasil — que tem o segundo maior número de mortes no mundo depois dos EUA, e com uma população menor — tinha uma média de mais de 3 mil mortes por dia. Já o Peru continua sendo o país com a maior taxa de mortalidade total per capita.”

“Tivemos um surto com a variante gama entre fevereiro e maio que, se você olhar em outros lugares do mundo, não encontra paralelo”, disse Fernando Spilki, membro da RedeVírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, explicando que isso cria uma forma de imunidade que, combinada com vacinas, poderia prevenir outro surto em massa.

A melhora repentina na região, no entanto, é motivo de debate. Profissionais de saúde destacam não apenas as taxas de vacinação constantes com pouca hesitação e anticorpos acumulados naturalmente devido ao contágio generalizado no início do ano, mas também o uso contínuo de máscaras e atrasos na reabertura. Também reconhecem que ainda há muito mistério sobre o comportamento do coronavírus.

Com o trauma da onda anterior, estádios esportivos permaneceram praticamente fechados e shows em ambientes internos ainda não estão permitidos, ao contrário do que acontece em partes da América do Norte. Agora, a América do Sul, com cerca de 420 milhões de habitantes do Caribe à Antártida, começa a retomar hábitos da pré-pandemia, criando alívio e ansiedade.

Depois de fechar aeroportos na maior parte de 2020 e restringir visitantes diários a apenas 600 pessoas, incluindo cidadãos, a Argentina se prepara para uma reabertura completa nas próximas semanas. O Chile, que provavelmente teve o toque de recolher mais longo em um país democrático, também suspenderá as restrições noturnas.

Depois da queda média de 6,3% do PIB da América do Sul em 2020, as economias do continente devem crescer cerca de 5,1% este ano, deixando muitas ainda abaixo dos níveis pré-pandemia, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Estudo brasileiro explica por que algumas pessoas não se infectam com o coronavírus
Entenda as novas regras para a entrada de brasileiros na Europa
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play