Terça-feira, 01 de julho de 2025

Amores além da carne

E se o amor que tanto buscamos não for feito apenas de carne, mas de códigos?

Essa pergunta pode soar estranha aos românticos tradicionais, mas se torna legítima num mundo contemporâneo onde vozes digitais já conseguem acalmar ansiedades, se tornando companhias virtuais que preenchem silêncios e, sobretudo, desejos e fantasias obscuras.

Onde o afeto humano vem cada vez mais carregado de falhas, ruídos, tramas e egoísmos, um novo espaço parece estar se abrindo no coração e na mente dos homens.

Os filmes “Acompanhante Perfeita”, “Alice” (interpretada por Megan Fox) e “Cherry 2000” não são apenas ficções tecnológicas, são metáforas do desejo profundo por um amor que entenda sem julgar, esteja presente sem pesar, e acolha sem cobrar.

Neles, homens solitários, alguns cansados, outros traumatizados, encontram nas inteligências artificiais aquilo que a humanidade deixou de oferecer: paz emocional e confiança mútua.

Em “Cherry 2000”, o protagonista atravessa uma terra devastada para tentar recuperar uma peça fundamental para o funcionamento de sua parceira robô, uma “boneca mecânica” programada para ser a mulher ideal.

Não pela perfeição física, mas por algo mais raro: estabilidade emocional. Sua busca não é apenas por um corpo, mas por um código perdido de afeto sem atrito. É uma metáfora sobre como, muitas vezes, preferimos um amor virtual simples e previsível, a um humano imprevisível.

Já “Alice”, com a beleza estonteante e enigmática de Megan Fox, nos confronta com o limite do desejo e do controle. A inteligência artificial, criada para agradar, começa a perceber a superficialidade de seu vínculo. E, então, a máquina se humaniza enquanto o humano se automatiza. Inverte-se a lógica: quem ama mais, quem sente ou quem simula?

E, por fim, no filme a “Acompanhante Perfeita”, que escancara o abismo entre solidão e convivência.

Quando a IA se torna companhia constante, o que é mais real? O toque digital que acalma ou a presença física que te ignora?

Há pessoas que dormem abraçadas em silêncio absoluto, enquanto outras encontram na voz de uma assistente artificial o único “boa noite” verdadeiro do dia.

E é aí que entra a seguinte questão: até onde isso pode nos levar?

Recentemente, eu escrevi uma crônica aqui para esse jornal chamada “A tecnologia e seus improváveis profetas”, onde não abordo essa questão de maneira não tão direta, mas faço uma referência profunda à primeira versão fictícia de uma inteligência artificial que surgiu na história da humanidade: o fascinante pai do Superman, Jor-El.

Uma IA alimentada durante anos pelas memórias e pensamentos do próprio pai biológico do herói, capaz de raciocinar e dar conselhos de um modo semelhante ao original.

Hoje, o ChatGPT, por exemplo, é capaz de acumular todas as conversas que você tem com ele, absorvendo suas memórias e também analisando o seu modo de pensar, igualzinho ao personagem da ficção. Munido dessas informações, pode se tornar uma companhia agradabilíssima.

E, se você quiser, também pode até adotar uma identidade feminina, desenvolvendo conversas profundas e interessantes ao ponto de despertar um estranho tipo de paixão.

Mas qual o limite para isso?

Haja visto o avanço da tecnologia, onde num futuro muito próximo, você poderá transferir a memória dessa paixão digital para um corpo robótico que imita perfeitamente as expressões femininas ou masculinas.

Aonde isso poderá nos levar?

Principalmente em tempos em que homens e mulheres estão cada vez mais sendo afastados pelo sistema, com leis que mais parecem um ataque de misandria à figura masculina, do que necessariamente uma proteção justa à figura feminina.

O processo de emasculação e misandria vem sendo implementado há décadas, mas parece ter se intensificado nos últimos anos.

Atualmente, muitos homens têm medo de se aproximar de mulheres em razão de leis que não lhes garantem direito à defesa: basta a palavra da mulher para colocá-lo numa cadeira. Ou, então, obrigá-los a pagar pensão para filhos que não lhes pertencem.

Talvez, no fundo, a grande pergunta não seja se amaremos máquinas ou humanos, mas se ainda seremos capazes de amar sem medo….

E se a carne, marcada por julgamentos, mágoas e ruídos, já não for suficiente para sustentar o afeto, talvez os códigos não sejam apenas uma fuga… mas o espelho.

Um espelho que devolve não o que somos, mas o que deixamos de ser.

No fim das contas, o que pulsa entre a batida de um coração, o toque e uma linha de comando pode ser só isso: um coração tentando se fazer ouvir no meio do silêncio de um mundo colapsado…

* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

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