Sábado, 01 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de setembro de 2023
O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou no comunicado de ontem que o espaço para uma eventual aceleração no ritmo de corte da taxa básica Selic é praticamente inexistente no momento. Segundo economistas e analistas, o Banco Central (BC) não só desenhou um quadro de maior deterioração externa, como também trouxe de volta a menção a riscos fiscais no Brasil.
Para o economista Werther Vervloet, da ACE Capital, surgiram incertezas sobre o cumprimento das metas fiscais propostas pelo governo entre a reunião anterior do colegiado e a de ontem. “Dos temas de preocupação apontados pelo BC, o fiscal foi o que me chamou mais atenção, porque ele havia sido retirado da mensagem da última decisão”, diz. “É sinal de que a discussão sobre o tema piorou e o BC teve que reagir a isso”, afirma.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, diz que o comunicado “trouxe piora do cenário internacional, com visão mais incerta, trazendo ainda menção à taxa de juros longa nos EUA, que tem causado volatilidade nos ativos globais”. Para o especialista, a volta do risco fiscal ao comunicado “é um alerta, porque as metas precisam ser atingidas para a condução da política monetária”.
Na visão de Lima, o comunicado reforça o plano de voo da autoridade de manter o ritmo de corte da Selic, de 0,50 ponto percentual, nas próximas reuniões. A Western projeta a Selic em 11,75% no fim de 2023 e em 9% na última reunião de 2024, quando o BC deverá parar de reduzir a taxa básica de juros.
A visão de que o BC vai manter o ritmo atual de cortes é compartilhada pelo economista-chefe da G5, Luis Otavio Leal. “As projeções de inflação do BC tiveram pioras [na comparação com o comunicado anterior] em todos os horizontes [2023, 2024 e 2025], mesmo na margem.” Leal afirma que a chance de a autoridade acelerar o ritmo de cortes parece menor do que a de desacelerar. “É baixa a possibilidade de desacelerar o ritmo, mas a chance de o BC moderar os cortes parece até maior do que acelerar.”
A G5 projeta Selic de 11,75% no fim de 2023. Para a casa, os juros devem finalizar o ciclo de queda em 8,5%, mas chegarão nesse nível apenas no segundo trimestre de 2025. Para o fim do ano que vem, o especialista enxerga a taxa básica em 9%.
Outro fator que economistas têm citado como agravante para a inflação, o avanço recente dos preços do petróleo no exterior, parece não preocupar o BC no momento, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. “Essa elevação dos contratos no exterior é recente e ainda não foi repassada para os preços da gasolina e do diesel. A autoridade, então, manteve certa tranquilidade em relação aos indicadores de inflação.”
Sanchez avalia o comunicado como “neutro” e um “não-evento” por vir em linha com o que o mercado esperava. As projeções da Ativa continuam inalteradas, com cortes em 0,50 ponto percentual se estendendo até o fim do primeiro trimestre de 2024. No segundo trimestre, um corte de 0,25 ponto encerraria o ciclo, com a Selic em 10,5%.
A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, também reforça o coro de quem enxerga um BC mais cauteloso. “A maior parte das surpresas [entre as reuniões] foi no sentido de não se afrouxar mais a política monetária”, afirma. A CM Capital tem estimativa de a Selic terminar 2023 em 11,75%. Porém, a casa vê condições para a autoridade acelerar o passo em 2024. A estimativa da gestora é de a taxa básica alcançar 8% no fim de 2024.
“Temos Selic no fim do ciclo mais baixa do que o mercado espera. Nas nossas estimativas, vemos arrefecimento mais forte da inflação em 2024, mais acentuado dos núcleos, principalmente, dos serviços, o que deve abrir margem para queda mais intensa [da Selic].”
O economista do BTG Pactual Álvaro Frasson menciona ainda a possibilidade de uma mudança no cálculo do hiato do produto (uma medida da ociosidade da economia) levar a um ajuste das projeções de inflação. “A diretora [do BC] Fernanda Guardado afirmou que haverá revisão metodológica do cálculo do hiato no relatório trimestral de inflação. Se tudo permanecer constante, a revisão deve trazer elevação das expectativas de inflação do BC.”