Terça-feira, 22 de julho de 2025

Ao descobrir os benefícios que as ameaças de Trump trazem à sua popularidade, Lula desandou a atacar o presidente americano, minando o trabalho dos canais diplomáticos

Ao ver os primeiros indícios de que obtém dividendos políticos com as ameaças feitas ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o presidente Lula da Silva começou a fazer o que se espera de um populista contumaz como ele. Das primeiras reações, razoavelmente acertadas pela combinação entre firmeza e equilíbrio por parte do governo para responder à ação tresloucada do presidente americano em favor de Jair Bolsonaro, Lula partiu para o tudo ou nada, velho hábito seu, e passou a falar sem parar – invariavelmente devolvendo provocações a Trump, indo além do ponto no uso das palavras adequadas à diplomacia internacional e se dedicando a estragar o trabalho dos canais diplomáticos e comerciais.

Num pronunciamento em cadeia de rádio e TV, com jeito e intenção claramente eleitoreiros, estava ali o Lula de sempre, convertendo em comício antecipado o que poderia ser uma bem-vinda prestação de contas à Nação diante dos delírios trumpistas. É improvável que Trump tenha se abalado a acompanhar o pronunciamento, cujo único propósito era capitalizar eleitoralmente a justa indignação dos brasileiros diante dos ataques de Trump ao País. Nessa toada, Lula classificou Bolsonaro e seus acólitos de “traidores da Pátria”, o que só se justifica num palanque, e não num discurso oficial.

Mas Lula queria se fazer ouvir por Trump e para isso deu uma entrevista à CNN Internacional, na qual declarou que o presidente americano “não foi eleito para ser o imperador do mundo”. A mensagem provocativa chegou à Casa Branca, que reagiu, dizendo que Trump está apenas preocupado com os interesses americanos. Lula deve ter ficado satisfeito por ter incomodado ligeiramente o presidente dos EUA, mas o Brasil certamente não ganhou nada com isso.

O cálculo de Lula, contudo, é imediato: vai jogar todas as fichas no entrevero com Trump para impulsionar sua popularidade. Num palanque em Goiânia, anunciou que o governo vai taxar gigantes de tecnologia – algo que já estava em estudo, mas que adquiriu velocidade para reagir a Trump. Também esbravejou que “não é um gringo que vai dar ordem a este presidente” e, bem ao seu estilo, levou o bate-boca para o terreno pornográfico, ao sintetizar o que, segundo ele, é o espírito da carta de Trump com ameaças ao Brasil: “Ou dá ou desce”.

O bom senso recomenda prudência e serenidade neste momento, mas Lula é Lula. Como raposa política que é, percebeu que a exortação ao nacionalismo e à soberania parece ser mais eficiente do que a reinvenção da luta de classes promovida pelo PT para recuperar a musculatura política perdida de seu presidente-candidato. Há limites, contudo, entre a defesa intransigente das instituições e dos interesses do povo brasileiro e a inclusão de métodos eleitoreiros para não desperdiçar a oportunidade que Trump lhe deu.

É legítimo e necessário reagir ao tarifaço trumpista e também é parte do jogo político deixar clara a responsabilidade de Jair Bolsonaro pela situação preocupante que o País vive, ameaçado de sofrer sanções absurdas por parte dos EUA só porque o presidente americano, incitado pela família Bolsonaro, considera injusto o processo contra o ex-presidente brasileiro por suposta tentativa de golpe.

O que não é aceitável é Lula sabotar, com seus discursos eleitoreiros, os esforços de diplomatas e empresários que tentam negociar com o governo americano. Como de hábito, Lula colocou os seus interesses e os de seu partido antes dos interesses do Brasil, em vez de se comportar como chefe de Estado consciente da limitadíssima capacidade brasileira de fazer frente aos arreganhos de Trump. Lula só pensa em melhorar sua performance nas pesquisas e parece já ter concluído que o governo americano não vai voltar atrás. Pode até ser verdade, mas é dever do presidente tentar, a todo custo, fazer-se ouvir pelos americanos em termos conciliadores, e não atiçar os ânimos para transformar a crise em rasteira oportunidade eleitoral. (Opinião/O Estado de S. Paulo)

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