Segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de maio de 2023
Principal referência da Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa terminou abril em alta de 2,5%, aos 104.431,63 pontos. Grande parte dessa valorização ocorreu na esteira da divulgação de índices de inflação mais baixos do que os previstos inicialmente pelo mercado. O pregão de maior valorização no mês ocorreu no dia 11, justamente quando o IPCA de março foi anunciado.
O indicador oficial de inflação ficou em 0,71%, abaixo do consenso de mercado – que era de 0,78%. Essa novidade agitou os investidores, que estão atentos a sinais que indiquem o início de um ciclo de corte da Selic (a taxa básica de juros), que hoje está em 13,75% ao ano.
A expectativa em torno da trajetória de inflação e juros deve continuar ditando o ritmo em maio. “Este mês será de muita volatilidade. Aliás, volatilidade será o nome do jogo”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos.
Os dois principais eventos do mês ocorrerão no mesmo dia. Nesta quarta-feira (3), tanto o Banco Central brasileiro quanto o Federal Reserve (Fed, o BC americano) vão se reunir para discutir a nova taxa de juros nos dois países. “A primeira semana definirá o curso de todo o mês de maio”, afirma Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento.
A esperança nos mercados é de que o Fed sinalize o fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos, o que traria alívio não só para as Bolsas americanas, mas para as de todo o mundo. Por lá, a taxa de juros está entre 4,75% e 5% ao ano, a maior desde a crise de 2008, mas a inflação não fica para trás e chegou a um dos maiores patamares em 40 anos.
Por isso, apesar das esperanças em relação ao término da alta de juros, não deverá ser isso que o investidor receberá do Fed, na visão de Conde, que projeta mais uma elevação de 0,25 ponto porcentual da taxa. “A autoridade monetária não reportará um fim do aumento de juros porque, se saírem índices de inflação ruins nos próximos meses, ela ficará amarrada a essa promessa”, afirma.
Selic
No Brasil, o BC também deve seguir na contramão da vontade do governo Lula e das expectativas de parte do mercado financeiro de que há espaço para a queda da Selic. Ainda existem muitas incertezas econômicas à frente, principalmente em relação ao novo arcabouço fiscal, regra apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o teto de gastos.
“O BC não vai passar no comunicado nem na ata a intenção de reduzir os juros, porque, sob qualquer mudança, o mercado vai precificar um corte na reunião seguinte. E o BC não quer isso”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
O arcabouço fiscal, que estabelece um limite de crescimento para as despesas públicas, já dividiu opiniões logo nos primeiros momentos de apresentação. A necessidade de aumento da arrecadação para atingir as metas, provavelmente via impostos, é um dos pontos sensíveis da proposta. A falta de punições para o descumprimento dos tetos estipulados também provocou reações negativas.
A Ágora Investimentos acredita em um cenário ainda muito incerto para os ativos de risco, e vê o novo arcabouço fiscal como abaixo do necessário para diminuir a dívida pública. As consequências podem surgir na forma de juro real relativamente mais alto, assim como uma pressão de baixa sobre o crescimento econômico.
“Um ajuste fiscal genuíno, com corte de despesas, não está presente”, disse a instituição em relatório. “Para qualquer das metas fiscais serem cumpridas serão necessários aumentos de impostos significativos ou corte de gastos tributários. O crescimento da dívida pública deverá caminhar para expandir o nível da dívida bruta do governo”, afirmam os analistas da Ágora.
Por outro lado, há quem veja as estratégias de Haddad para aumentar a arrecadação e garantir o cumprimento do arcabouço como positivas. O ministro pretende “abrir a caixa preta da renúncia fiscal” e caçar benefícios tributários de grandes empresas.
A taxação de fundos exclusivos (aqueles de apenas um cotista) e de dividendos, assim como a revisão da modalidade de Juros Sobre Capital Próprio (JCP), são iniciativas ventiladas no último mês e consideradas interessantes por Conde, da Levante. “Haddad falou que quer equilíbrio fiscal, mas com justiça social. E eu, ao contrário da maioria do mercado, estou super favorável a ele.”