Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de novembro de 2025
Quando a gente acha que já ouviu e viu tudo sobre preconceito, eis que surge alguém, infelizmente revestido de poder político, e prova que estamos errados. Antes de citar o fato que motivou este artigo, vou lembrar algumas frases — são tantas que não caberiam neste espaço — que se somam a esse episódio e permitem que os sonhadores do retorno do regime antidemocrático voltem aos palcos no Brasil, via mídia e redes sociais, para promoverem suas posições preconceituosas e excludentes.
Para lembrar desses absurdos não precisa ter memória privilegiada pois, aconteceram a poucos anos e estão expressas em frases que falam por si mesmas. Vamos relembrar: ” vagabundos e incapazes de procriar”; “Com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”; “máscara é coisa de viado”; “Empregada doméstica indo pra Disney festa …”
Faço questão de relembrar essas frases para aqueles cidadãos e cidadãs que defendem a liberdade, os princípios democráticos e as garantias constitucionais, para que fiquem atentos e não tratem como fatos isolados que, nos diferentes ambientes sociais chamem a atenção para a gravidade da violência contra os menos favorecidos. Que não se banalize esse tipo de ação, ainda mais quando ela se apresenta como “uma ação social “.
É o caso recente da implementação de um programa de “triagem e devolução de pessoas ” criado pelo prefeito de Florianópolis. Aliás, um empresário cujo passado inclui empresas nas quais teve participação acionária e que acumulam um significativo histórico de desrespeito às leis trabalhistas. Diante desse histórico, entendo porque ele é um adversário do movimento sindical: não gosta de quem defende trabalhadores e seus direitos. Também não gosta de migrantes. Venham de onde vierem.
No entanto é importante destacar que o estado vizinho tem bons exemplos e que poderiam inspirar outros municípios não só em Santa Catarina e sim no Brasil.
É o exemplo do que fez o prefeito de Criciúma, Vaguinho Espíndola em julho desse ano, quando se disfarçou de morador de rua, usando barba e peruca postiças, para vivenciar por um dia e uma noite essa realidade. A justificativa era compreender e testar na prática a situação desse público, ou seja, “sentir na pele”.
A partir disso, ele propôs ampliar os serviços de acolhimento, aumentar o número de vagas, fortalecer as clínicas de reabilitação e adotar a internação involuntária para aqueles que, segundo ele, não conseguem gerir sua própria vida.
Diante dessa breve reflexão fica claro que se depender de gestores públicos, como o Topázio Neto, a imagem do Brasil lá fora continuará sendo manchada — e não é por culpa de nós trabalhadores. É triste, mas real: ainda convivemos com o racismo, a xenofobia e a aporofobia (o preconceito contra os pobres). Em vez de mostrarmos ao mundo um país diverso, acolhedor e solidário, deixamos que a intolerância e a exclusão social falem mais alto.
Nós, que erguemos os prédios, pontes e estradas deste país, sabemos o valor do trabalho e da união entre diferentes. No canteiro de obras, não importa a cor da pele, a origem ou a condição social: todos carregam a mesma missão e têm o mesmo direito ao respeito.
Mas fora dos muros das obras, a desigualdade continua sendo alimentada por práticas que negam direitos humanos e ferem nossa Constituição. Isso corrói a credibilidade moral do Brasil diante do mundo e mostra que ainda há gente com poder — e interesses — agindo contra a democracia.
O Brasil que queremos construir é outro: um país onde o trabalhador não seja discriminado, onde a diversidade seja motivo de orgulho e onde a democracia seja um alicerce sólido, e não apenas um discurso bonito.
Porque um país que discrimina seu próprio povo, nunca vai erguer-se de verdade.
*Gelson Santana Presidente do STICC e Secretário Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Construção Pesada e em Montagem Industrial UGT