Sábado, 13 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de setembro de 2025
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes estava visivelmente satisfeito depois de terminar seu aparte-direito de resposta. Mal parava na cadeira depois da fala de 20 minutos, que teve não só uma exibição de vídeos e imagens mas também falas dos outros ministros da Primeira Turma, evidentemente calculados para demonstrar apoio a Moraes e o isolamento de Luiz Fux, o único até agora a votar para absolver Jair Bolsonaro.
O próprio encadeamento da sequência de vídeos e imagens demonstra que havia ali um roteiro que começava no 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro de cima de um palanque em São Paulo manda Moraes “encerrar os inquéritos” e pedir para sair do STF, e iam até a cena em que um dos invasores quebra um relógio histórico dado de presente a D. João VI no Palácio do Planalto, no 8 de Janeiro.
“Não é contra o Alexandre de Moraes, é contra a instituição”, repete o ministro, que logo teve sua fala complementada por Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma.
“Me parece que essa figura, e eu vou tratar no meu voto, é uma coação institucional que me parece própria aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Então, coagir uma instituição para que se arquive um inquérito ou um processo é inadmissível e faz parte dos crimes contra o Estado Democrático de Direito”, disse o ministro, talvez na única intervenção nesta semana.
Da primeira fileira, observava a cena, numa espécie de participação especial, um atento Gilmar Mendes, que não é membro da Primeira Turma mas tem sido um pilar de sustentação de Moraes, e tem rusgas antigas com Fux na Corte.
Empertigado em sua cadeira, Luiz Fux, o alvo de toda a cena, olhava fixamente para frente, com o rosto contraído e vermelho, e fazia anotações. Parecia ter a intenção de falar, mas não pediu a palavra.
Moraes continuou: “Intervenção militar com Bolsonaro presidente. Aqui não está Mauro Cid presidente. Não está Braga Netto presidente. Não está Garnier presidente. Não está Anderson (Torres) presidente. Não está Ramagem presidente. Não estão os demais réus. Aqui está o líder da organização criminosa”, declarou em referência aos dizeres de um cartaz em uma manifestação bolsonarista.
A reação da audiência – formada por advogados, deputados federais, funcionários de embaixadas e jornalistas – com burburinhos e comentários de aprovação, pareceu deixar Moraes ainda mais confiante.
“Quem sempre foi o ponta de lança desse discurso populista que caracteriza as ditaduras no mundo todo foi Jair Messias Bolsonaro, que era o líder da organização criminosa”.
Fux imediatamente levantou e deixou o plenário. Quando voltou, Dino percebeu o desconforto e puxou conversa. Parecia estar justificando ou explicando algo, como se estivesse avisando o colega de que também pretendia falar.
E foi o que ele fez, assim que Cármen Lúcia retomou a palavra, citando o plano Punhal Verde Amarelo e o fato de que os réus da trama golpista produziam uma fartura de documentos descrevendo o que pretendiam fazer: “No golpe de 1964 havia menos prova documental do que o dessa tentativa. Nessa tentativa agora só faltou a ata”. Mais uma resposta a um argumento de Fux para absolver Bolsonaro.
Encerrado o seu direito de resposta, Moraes devolveu a palavra a Cármen Lúcia, prometendo não falar mais nada.
Nessa meia hora de toques de bola entre os ministros, só Fux não disse palavra. E como estava completo o roteiro, Gilmar Mendes se levantou e deixou o plenário. (Com informações da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo)