Sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Após crise no Enem, Inep suspende outro pré-teste que seria aplicado entre alunos de ensino médio

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) adiou a aplicação de um exame previsto para dezembro com alunos de escolas públicas após suspeitas de vazamento de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A prova seria realizada em 3 de dezembro, em 35 cidades de todas as regiões do País. Na quinta-feira (20), os inscritos receberam um e-mail informando que a avaliação estava “temporariamente suspensa”.

A decisão ocorre após a denúncia contra um estudante de Medicina do Ceará, acusado por vestibulandos de ter “previsto” questões do Enem. Ele afirma ter conseguido antecipar parte dos itens porque participou de um exame da Capes — órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) — que, na prática, funcionava como pré-teste para o Enem.

O Inep cancelou três questões consideradas semelhantes às que apareceram em uma live no canal do YouTube de Edcley S. Teixeira. Até então, o uso da prova da Capes como pré-teste pelo Inep era uma informação confidencial. Segundo Teixeira, ele identificou o padrão das questões e percebeu que eram compatíveis com o Enem.

O estudante transformou o material em negócio, criando um curso pago para vestibulandos com apostilas em PDF contendo centenas de perguntas. Conversas e publicações nas redes sociais indicam que ele teria prometido pagar colaboradores para memorizar trechos de exames usados como pré-teste — R$ 10 por questão decorada — além de custear vans para levar participantes ao local da prova.

O MEC deve encerrar a aplicação da Prova Prêmio Talento Universitário Capes, que está no centro das suspeitas de vazamento. Já o Estudo de Comportamento Diferencial de Itens pode ser retomado no ano que vem, segundo técnicos ouvidos pela reportagem. Em ofício enviado em novembro às secretarias de educação, o Inep informava que a prova tinha como objetivo analisar o desempenho de questões de múltipla escolha.

“O objetivo é assegurar a qualidade técnico-pedagógica e psicométrica dos itens, que poderão compor futuros instrumentos de avaliação educacional”, diz o documento. O texto não menciona relação com o Enem, mas afirma que seriam selecionados alunos inscritos no exame de 2025. Técnicos ligados ao Inep confirmaram que se tratava de um dos pré-testes do órgão.

O ofício ainda orienta que os alunos convocados seriam contatados diretamente por e-mail. “Solicitamos que este comunicado seja amplamente divulgado na rede para dirimir dúvidas sobre a legitimidade do convite recebido pelos estudantes”, afirma a nota.

Um professor de Montes Claros (MG) contou que um aluno suspeitou de golpe ao receber o e-mail do Inep e pediu ajuda para verificar a autenticidade. A mensagem informava que o participante receberia R$ 400 por duas horas de prova, além de premiação de R$ 2 mil para os mil melhores classificados. A remuneração é usada para estimular o engajamento e garantir que o pré-teste produza dados confiáveis de desempenho.

“Meu aluno se interessou pelo dinheiro e pediu ajuda para se inscrever. Quando acessei o sistema, vi que estava tudo certo, que os dados escolares dele já apareciam direto”, disse o professor, que pediu anonimato. Na quinta-feira, o estudante recebeu novo e-mail avisando da suspensão da prova.

O pré-teste é uma etapa essencial na metodologia adotada pelo Enem, baseada na Teoria de Resposta ao Item (TRI). Desde que o exame foi transformado em vestibular, em 2009, as questões precisam ser aplicadas previamente a estudantes com perfil semelhante ao do ensino médio para que sejam calibradas de acordo com seu grau de dificuldade.

Entre as cidades que participariam do exame estavam a maioria das capitais e municípios de menor porte, como Juazeiro do Norte (CE), Juiz de Fora (MG), Niterói (RJ) e Pelotas. O ofício também informava que as vagas eram limitadas.

(Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)

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