Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de agosto de 2023
Aliados e conselheiros da família Bolsonaro passaram a usar as palavras “pane” e “descontrole” para definir a situação do núcleo mais próximo ao ex-presidente após a guinada no tom da defesa de Mauro Cid e a ação da Polícia Federal contra o advogado Frederick Wassef.
O advogado é alvo da PF por ter participado do esquema de venda de presentes valiosos dados a Bolsonaro em razão do cargo. Relógios e joias preciosas foram vendidos e o ex-presidente teria embolsado os valores. Os presentes, contudo, são considerados bens públicos do povo brasileiro e não privados, portanto, o desvio é crime.
Quando Bolsonaro foi cobrado a devolver relógios que recebeu, Wassef foi para o Estados Unidos recomprar por R$ 300 mil um dos acessórios que haviam sido vendidos. O advogado disse que pagou o valor do próprio bolso. Bolsonaro nega as acusações.
Pessoas que estão aconselhando a família admitem que o cenário é, neste momento, de descoordenação, “de bate-cabeça, de descontrole”.
Eles avaliam que os últimos passos e contradições públicas de Wassef acabaram por minar a credibilidade do discurso que vinha sendo adotado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro até aqui. Mais: com a apreensão do celular de Wassef, temem que a investigação da PF, já muito robusta, aponte novos elementos complicadores da situação.
Outro fator que aumentou a apreensão foi a mudança brusca no tom da defesa de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em entrevista, o advogado Cezar Bittencourt disse, pela primeira vez, que Cid apenas cumpria determinações dadas por uma terceira pessoa, não tendo agido por iniciativa própria no cumprimento das funções.
Cid era o braço direito de Bolsonaro. O ex-presidente chegava a usar o telefone dele para falar com aliados quando não queria usar o próprio aparelho.
CPMI
Relatora da CPI do 8 de Janeiro, a senadora Eliziane Gama quer quebrar o sigilo telefônico e telemático de Frederick Wassef. O requerimento foi protocolado na sexta-feira (18), após conversa entre a relatora e o presidente da CPI, deputado Arthur Maia.
A princípio, Maia não concordou com a intenção da relatora em investigar o caso da venda das joias de Bolsonaro. Ele dizia não ver relação entre o caso e os ataques antidemocráticos do 8 de janeiro.
A base governista, porém, alega haver vínculo entre a venda das joias e o financiamento de atos antidemocráticos.
O requerimento pede a quebra do sigilo telefônico e telemático de Wassef desde 2022, do sigilo fiscal do advogado desde 2021 e o envio dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) desde 2021.
A relatora também pediu a quebra dos sigilos de outro envolvido no caso das joias de Bolsonaro. Osmar Crivelatti, ex-assessor do ex-presidente, também teria intermediado as negociações e ajudado no transporte das joias.
Um recibo de compra em nome de Wassef foi encontrado pela PF. O advogado admitiu ter recuperado o relógio, mas afirma que fez a compra com o próprio dinheiro. A origem do dinheiro ainda está sendo investigada pela PF.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, Frederick Wassef viajou aos EUA para recuperar um relógio Rolex vendido pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.