Terça-feira, 11 de novembro de 2025

Após megaoperação no Rio, a direita abraça a pauta do combate ao crime para desgastar Lula, em meio às incertezas sobre o futuro de Bolsonaro

A entrada definitiva do tema da segurança pública no debate eleitoral, com as repercussões da operação policial no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos e virou a mais letal da história no País, contribuiu para alinhar atores de oposição que orbitam Jair Bolsonaro, só que agora em torno de uma pauta descolada das prioridades do ex-presidente. O movimento acendeu um alerta no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sofre desgastes nessa temática e tenta responder à pressão para se reeleger.

Em setores da direita e do Centrão, uma das avaliações é que é preciso olhar para o “pós-Bolsonaro” e substituir o debate da anistia para os envolvidos na tentativa de golpe de Estado pela discussão de problemas reais. O intuito é frear o favoritismo de Lula, que deve disputar a reeleição pelo PT, neste momento.

O ex-presidente, que está em prisão domiciliar, teve seus recursos negados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que o condenou por tentativa de golpe de Estado. Após ο julgamento no plenário virtual, Bolsonaro poderá ser preso em unidade externa.

O cenário tem acelerado um processo de isolamento de uma parte dos aliados em relação a Bolsonaro, embora políticos e dirigentes partidários ainda avaliem que sua família preserva força no eleitorado e no ambiente digital. O papel do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, influenciando o tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump, abalou as relações internas no segmento.

Ao mesmo tempo, integrantes do clã se queixam de aliados que teriam, segundo eles, sido eleitos de carona no bolsonarismo e agora estariam fazendo uma defesa tímida do ex-presidente, com atuação aquém da esperada na campanha por anistia. Eduardo e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) chegaram a comparar a “ratos” os governadores cotados para a Presidência, por quererem herdar o espólio do pai.

A operação da gestão Cláudio Castro contra o crime organizado no Rio levou a uma aproximação de governadores de oposição a Lula, que propuseram a criação de um “consórcio da paz”, para somar esforços contra a violência.

Entre eles, estão nomes apontados como eventuais sucessores de Bolsonaro na direita, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS).

“Em alguma medida, uma candidatura antipetista vai ter que ter, mesmo que tacitamente, um apoio do bolsonarismo”, diz o cientista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria.

“É uma pauta fantástica para a direita”, afirma o senador e presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), citando o aumento da preocupação com a criminalidade no país em pesquisas de opinião. Isso levou o PP, no mês passado, a adotar o lema “Brasil do futuro é Brasil mais seguro”. Os elevados índices de aprovação à ação no Rio indicam que a segurança virou tema “irreversível” para 2026, opina.

“Há muito tempo que eu batia nessa tecla, entre os partidos de direita e com o próprio [ex-]presidente, para a gente falar sobre isso. Quando tínhamos os atos contra o [ministro do Supremo Tribunal Federal] Alexandre de Moraes e aquelas coisas, eu falava ‘mas vamos falar um pouquinho da segurança também”, relata Nogueira, que nega existir um afastamento em relação ao ex-presidente. “Não vamos esquecer a anistia, mas essa não pode ser a única pauta. Temos uma eleição para ganhar”, segue.

No PT, a ideia é fazer o debate de segurança pública na campanha mostrando que o governo Lula fez mais pela área do que Bolsonaro, de acordo com o secretário nacional de comunicação do partido, Éden Valadares.

“É um tema mais sensível historicamente para a esquerda. Sem abrir mão da defesa da vida e dos direitos humanos, vamos mostrar que é possível combater o crime organizado sem precisar entrar na barbárie da matança”, diz.

Eduardo Bolsonaro

Um estrategista que atuou com o bolsonarismo em campanhas afirma, sob reserva, que a direita ganhou a chance de abraçar um tema central da eleição – e, com isso, amenizar os prejuízos do que essa fonte considera serem “lambanças” de Eduardo Bolsonaro. “Agora há uma linha de unificação, com uma pauta que mobiliza e tem potencial para afastar de Lula o eleitorado pendular de centro.”

O deputado passou a ser culpado pela reabilitação momentânea de Lula, após a avaliação de que a ofensiva nos Estados Unidos deu a Lula o discurso de defesa da soberania nacional, e insiste em uma estratégia própria.

Eduardo, que não respondeu aos contatos da reportagem, tem interesse em concorrer à Presidência e resiste à possibilidade de que o pai escolha um sucessor de fora da família. Na última semana, ele disse em entrevista que poderia ser candidato mesmo se for para perder, porque também enxerga “vitória na derrota”. (Com informações do Valor Econômico)

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