Domingo, 20 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 18 de julho de 2025
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu alegações enganosas sobre o Pix ao dar entrevista à imprensa nessa sexta-feira (18), depois de ser alvo de operação da Polícia Federal (PF) e colocar uma tornozeleira eletrônica. Bolsonaro disse que o governo dele criou o sistema de pagamentos e que os bancos perderam R$ 20 bilhões com o Pix, o que não é verdade.
O Pix voltou a ser tema de discussão depois de ser citado como um dos focos da investigação do governo dos Estados Unidos sobre supostas práticas desleais de comércio praticadas pelo Brasil. Essa investigação, juntamente com a imposição de tarifas de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, foi anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como retaliação ao processo judicial movido contra Bolsonaro por golpe de Estado.
Na manhã dessa sexta, Bolsonaro foi alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal. A determinação foi feita pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que atendeu a um pedido da própria PF, apoiado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Depois de ter a tornozeleira instalada, o ex-presidente concedeu entrevistas e fez declarações falsas e enganosas na sede do PL, em Brasília, para onde se dirigiu no final da manhã.
— Confira a checagem do Estadão Verifica sobre as principais declarações de Bolsonaro:
* Bolsonaro não criou o Pix
O que Bolsonaro disse: que o Pix foi criado no governo dele, em novembro de 2020.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O Pix, sistema brasileiro de pagamento eletrônico instantâneo, foi inaugurado em novembro de 2020, no governo Bolsonaro, mas ele não foi criado pela equipe do ex-presidente. Na realidade, o formato começou a ser pensado em 2018, no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). O sistema foi desenvolvido pela equipe técnica do Banco Central do Brasil.
Como mostrou o Projeto Comprova, do qual o Estadão Verifica é parceiro, Bolsonaro demonstrou desconhecer o Pix quando foi questionado sobre o sistema pela primeira vez. Em outubro de 2020, um apoiador parabenizou Bolsonaro pelo sistema, mas ele achou que se tratava de um termo relacionado à aviação civil. Seis meses depois do lançamento do Pix, Bolsonaro ainda não havia utilizado o sistema.
* Banqueiros não perderam R$ 20 bilhões com Pix
O que Bolsonaro disse: que os banqueiros perderam em torno de R$ 20 bilhões de receita com operações de TED e DOC após a criação do Pix.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Em 2021, primeiro ano completo com o Pix em operação, os bancos tiveram uma queda de faturamento inferior a 2% do lucro. A perda naquele ano foi de cerca de R$ 1,5 bilhão, de acordo com balanço dos bancos Itaú, Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander. Em um período de 5 anos (de 2019 a 2023), a receita com tarifas de “serviços de conta corrente”, como “pacotes de serviços”, TEDs e outras cobranças do tipo dos cinco principais bancos do País caiu R$ 5 bilhões de reais.
* Legislação não permite taxação do Pix
O que Bolsonaro disse: que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse não querer taxar o Pix, mas que monitoramento da Receita Federal das operações seria o primeiro passo para que isso aconteça.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O monitoramento das transações financeiras via Pix era feito desde 2020, quando o sistema de pagamentos foi criado. A norma da Receita Federal sobre o tema, proposta no início do ano e revogada pouco depois, não criou taxas sobre as operações, como mostrou o Verifica em mais de uma ocasião.
Em 16 de janeiro deste ano, o governo publicou a Medida Provisória nº 1.2888/2025, que veda a cobrança de taxas adicionais para pagamentos feitos com Pix, considerando isso como prática abusiva, e deixa claro que “não incide tributo, seja imposto, taxa ou contribuição, no uso do Pix”.
* Trump reduziu cotas de alumínio sem taxa durante governo de Bolsonaro
O que Bolsonaro disse: que em 2019, quando ele era presidente, Donald Trump quis impor tarifas ao aço e ao alumínio brasileiros, mas a medida não foi aplicada.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Em 2018, ainda no governo de Michel Temer, Trump disse que a indústria dos Estados Unidos vinha sendo prejudicada pelos preços do aço e do alumínio praticados por outros países e decidiu taxá-los. Também em 2018, o Brasil conseguiu negociar com os Estados Unidos uma cota livre da tarifa, e o que ultrapassasse essa cota seria taxado em 25%.
Quanto ao alumínio, em setembro de 2019, Trump aplicou uma sobretaxa de até 130% sobre o produto. Em dezembro daquele ano, Trump voltou a impor tarifas sobre aço e alumínio de outros países e acusou Brasil e Argentina de desvalorizarem suas moedas para prejudicar os Estados Unidos.
Ele ameaçou taxar de novo os dois países, mas acabou deixando o Brasil de fora quando anunciou novas taxas, em janeiro de 2020. Na época, Bolsonaro disse que convenceu o presidente dos Estados Unidos a deixar o Brasil de fora das taxas. Mas, em meio à campanha eleitoral de 2020, Trump reduziu as cotas que ficavam de fora das taxas de 350 mil para 60 mil toneladas. (Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)