Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Aposta de corte menor da taxa básica de juros em maio já é majoritária

O mercado voltou a exibir um ritmo alucinante de alteração de cenários para os rumos da taxa de juros no Brasil, e as chances de o Banco Central (BC) não cumprir o “guidance” de corte de 0,5 ponto na Selic em maio e adotar um tom mais conservador passaram a ser majoritárias.

Com o apoio de declarações mais duras do presidente do BC, Roberto Campos Neto, os preços dos ativos passaram a embutir maior probabilidade de uma redução de 0,25 ponto no juro básico no próximo mês, na esteira de um aumento relevante da incerteza.

Na curva de juros, a reprecificação foi expressiva. Ao contrário do alívio dos Treasuries, a taxa do DI para janeiro de 2025 disparou, ao passar de 10,335% para 10,425%. A curva de juros, agora, projeta uma redução de 0,25 ponto nos juros em maio e alguma chance de início de um novo ciclo de elevação da Selic já no fim deste ano, o que ajuda a demonstrar o estresse do mercado.

Até mesmo no mercado de opções, que costuma ser utilizado pelos agentes para fazer apostas mais precisas para cada reunião do Copom, houve uma forte reprecificação. No início do mês, a possibilidade de um corte de 0,5 ponto estava em 93%, mas na quarta (17) apontava 28%. Já a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto saltou de 4% para 49%.

Os comentários de Campos Neto sobre uma possível redução do ritmo de cortes de juros caso a incerteza siga elevada abriram a porta para a reprecificação do mercado e até mesmo economistas já passaram a revisitar seus cenários. Assim, a chance de novas reavaliações sobre os rumos da Selic nos próximos dias deve seguir em alta.

De acordo com o economista-chefe da XP Asset Management, Fernando Genta, que está em Washington acompanhando os encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), caso o Copom fosse “hoje”, a chance majoritária seria de uma desaceleração no ritmo de redução da Selic para 0,25 ponto percentual.

“Tem sido a tônica de todos os encontros do FMI até agora. Todos os banqueiros centrais da América Latina estão postergando um pouco os cortes sinalizados. No nosso caso, fiquei com a impressão de que o BC antecipará a desaceleração para 0,25 ponto já em maio se as coisas ficarem como estão, principalmente o dólar. Mas ainda faltam três semanas para o Copom e tem muita água para rolar”, diz.

A visão é semelhante à do economista-chefe do PicPay, Marco Antonio Caruso. “Até a reunião tudo pode mudar, mas, com os preços e as condições de hoje, desconfio que o BC cortaria os juros em 0,25 ponto. Acho que ficamos à mercê do câmbio, que é o canal mais imediato para o cenário externo e a questão fiscal influenciarem as projeções deles”, afirma.

A ASA Investments alterou seu cenário para a trajetória da política monetária ontem e elevou a projeção para a Selic no fim do ano de 8,5% para 9,75%.

Nesse sentido, a gestora passou a esperar quatro reduções consecutivas de 0,25 ponto na taxa básica, com uma desaceleração no ritmo já em maio. Segundo o economista Leonardo Costa, da ASA, Campos Neto endureceu muito o discurso, principalmente quando fez menção ao cenário externo, além de ter apontado uma piora no lado fiscal doméstico.

“O que deu para perceber aqui na reunião do FMI é que o Campos Neto já vinha adotando um tom mais cauteloso em relação ao fiscal. Nesta semana, também vimos uma mudança grande do ponto de vista do Fed, com o Powell [presidente do Fed] dizendo que os juros devem ficar elevados por mais tempo. Além do fator externo, também tivemos a revisão das metas fiscais. Tudo isso afetou bastante a taxa de câmbio. Foi uma combinação de fatores muito pouco profícua para o lado doméstico, o que levou a gente a fazer uma revisão no ritmo de cortes”, afirma Costa.

O economista-chefe da Parcitas Investimentos, Vitor Martello, também diz ver uma redução no ritmo de corte na Selic já em maio, com uma taxa de 9,5% no fim do ciclo.

“Por modelo, considerando o real, o petróleo e a piora das projeções do Focus para o IPCA em 2025, já víamos espaço para redução do ritmo. E as falas do Campos Neto foram na direção de confirmar que a sinalização feita na última reunião é passível de reavaliação, dado que ela tem condicionantes claros e a maioria deles foi na direção de advogar por um ritmo menor.”

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