Sábado, 12 de outubro de 2024

Argentina vota para presidente neste domingo em cenário de incerteza pela crise econômica

Os argentinos vão às urnas no primeiro turno das eleições presidenciais neste domingo sem que tenham a mínima ideia da situação econômica que enfrentarão na segunda-feira – em meio à virtual paralisação do país nas últimas semanas da campanha. Nesse período mais agudo de uma crise que se arrasta há décadas na Argentina, a expectativa da dolarização da economia, a principal bandeira eleitoral do favorito na disputa, o ultradireitista Javier Milei, levou a uma corrida aos dólares.

Em duas semanas, o dólar no câmbio paralelo subiu de menos de 700 para mais de mil pesos. Como consequência – em um país cuja inflação anual atingiu 138,3% em setembro – praticamente todos os setores da atividade econômica ficaram sem ter como formar preços, num compasso de espera que deve se estender até o anúncio do resultado do primeiro turno.

Pesquisas argentinas apontam para a possibilidade de um triunfo de Milei, do La Libertad Avanza (LLA) – que catalisou a revolta e o cansaço da população com os políticos tradicionais -, já no primeiro turno. Para isso, ele precisa ter 45% dos votos ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais do segundo colocado. Caso isso não ocorra, haverá um segundo turno em 19 de novembro.

“Se Milei representa o radical salto no escuro, com suas promessas de abandonar o peso e adotar o dólar como moeda, fechar o Banco Central e romper laços com a China e o Mercosul, as alternativas a ele são, em grande medida, o mais do mesmo”, diz o cientista político da Universidade de Buenos Aires (UBA) Sergio Aranglíz, referindo-se ao ministro da Economia e candidato governista, Sergio Massa, e à centro-direitista Patricia Bullrich – que representa o movimento do ex-presidente Mauricio Macri.

Segundo turno

Um provável segundo turno entre Milei e Massa deve provocar um ambiente de mais um mês de instabilidade cambial e alta de preços descontrolada. Em um sinal da volatilidade do mercado causada pela tensão eleitoral, em apenas um dia da semana passada, investidores sacaram US$ 6,6 milhões do Global X MSCI Argentina ETF, fundo que é um dos principais veículos para estrangeiros interessados em investir na Argentina – o maior resgate desde abril de 2021.

“Nenhum dos três candidatos é visto como capaz de oferecer uma resposta sólida à crise econômica”, afirmou Vicente Palermo, analista do do centro de estudos Club Político Argentino. Ele destaca que a dolarização defendida por Milei demandaria condições prévias que o país não tem. “Um plano de estabilização só pode funcionar na medida em que se tenha alguma preparação para isso, como ocorreu com o Brasil na época de instalação do Plano Real”, disse.

A maior parte dos analistas estima que, para levar adiante seu plano de dolarização, Milei teria de dispor de ao menos US$ 60 bilhões. “Não há como dolarizar uma economia se não há dólares”, disse o economista Luis Secco, da consultoria Perspectiv@s.

De outra parte, uma eventual eleição de Massa e de sua coalizão governista Unión por la Patria (UPP) seria a opção pela figura mais visível da gestão econômica do governo peronista de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, em última análise, o responsável pelo agravamento da crise que levou 40% dos argentinos à pobreza.

Há outras barreiras para a aplicação de programas econômicos menos ortodoxos. Qualquer esforço de estabilização exige a redução do déficit – o que implicaria em medidas impopulares como corte de programas sociais e subsídios. E muitas das medidas propostas por Milei, como o fechamento do BC ou a retirada do país do Mercosul, dependeriam de mudanças constitucionais, para as quais não teria apoio no Legislativo.

Assessores de Milei têm tentado amenizar suas propostas mais radicais, mas muitos argentinos que votaram nele nas primárias agora mostram certo receio.

“O que se percebe é uma modificação emocional entre o que ocorreu nas primárias até essa reta final de campanha”, disse o analista Sergio Berensztein, da consultoria que leva seu nome. “Muito da votação de Milei veio da raiva e da revolta. Mas, após as declarações que alimentaram a corrida aos dólares dos últimos dias, esse sentimento se converteu em temor”, afirmou.

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