Terça-feira, 03 de junho de 2025

As Coreias estão em uma guerra de informações e Kim Jong Un pode estar vencendo

A fronteira entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é cercada por densas cercas de arame farpado e centenas de postos de guarda. Mas, espalhado entre eles, há algo ainda mais incomum: alto-falantes gigantes, camuflados em verde.

Enquanto eu observava o Norte numa tarde do mês passado, um dos alto-falantes começou a tocar músicas pop sul-coreanas em volume alto, intercaladas com mensagens subversivas.

“Quando viajamos para o exterior, isso nos energiza”, ecoou uma voz feminina do outro lado da fronteira — uma provocação óbvia, já que os norte-coreanos não têm permissão para sair do país.

Do lado norte-coreano, eu podia ouvir de longe uma música de propaganda militar, enquanto seu o regime tentava abafar as transmissões inflamatórias.

Tecnicamente, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul ainda estão em guerra e, embora já tenham se passado anos desde que um dos lados atacou o outro, os dois lutam em uma frente mais sutil: uma guerra de informação.

O Sul tenta enviar informações ao Norte, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, tenta a todo custo bloqueá-las.

A Coreia do Norte é o único país do mundo onde a internet ainda não se difundiu plenamente. Todos os canais de TV, estações de rádio e jornais são administrados pelo Estado.

“A razão para esse controle é que grande parte da mitologia em torno da família Kim é inventada. Muito do que eles contam às pessoas são mentiras”. disse Martyn Williams, pesquisador do Stimson Center, sediado em Washington, e especialista em tecnologia e informação norte-coreana.

Expor essas mentiras a um número suficiente de pessoas pode fazer com que o regime caia. É isso que pensa a Coreia do Sul.

Os alto-falantes são uma ferramenta usada pelo governo sul-coreano, mas, nos bastidores, um movimento clandestino mais sofisticado está crescendo.

Um pequeno número de emissoras e organizações sem fins lucrativos transmite informações para o país na calada da noite em ondas de rádio curtas e médias, para que os norte-coreanos possam sintonizar e ouvir em segredo.

Milhares de pen drives e cartões micro-SD são contrabandeados pela fronteira todo mês, carregados com informações estrangeiras — entre elas, filmes sul-coreanos, dramas de TV e músicas pop, além de notícias, tudo criado para desafiar a propaganda norte-coreana.

Mas agora aqueles que trabalham na área temem que a Coreia do Norte esteja em vantagem.

Kim não só está reprimindo duramente aqueles flagrados com conteúdo estrangeiro, como o futuro desse trabalho pode estar em risco. Grande parte dele é financiado pelo governo dos Estados Unidos e foi afetado pelos recentes cortes do presidente americano, Donald Trump, a programas de ajuda humanitária.

Como isso afeta a longa guerra de informação entre os dois lados?

Contrabandeando música pop e séries de TV
Todo mês, uma equipe do Unification Media Group (UMG), uma organização sem fins lucrativos sul-coreana, analisa as últimas notícias e ofertas de entretenimento para criar playlists que eles esperam que repercutam na população do Norte.

Em seguida, eles as carregam em dispositivos, que são categorizados de acordo com o risco de visualização. Em pen drives de baixo risco, estão dramas da TV sul-coreana e músicas pop — recentemente, eles incluíram uma série romântica da Netflix, “Se a Vida te Der Tangerinas…”, e um hit da popular cantora e rapper sul-coreana Jennie (ex-integrante do grupo feminino Blackpink).

As opções de alto risco incluem o que a equipe chama de “programas educacionais” – informações para ensinar os norte-coreanos sobre democracia e direitos humanos, o conteúdo que Kim supostamente mais teme.

Os pen drives são então enviados para a fronteira chinesa, onde os parceiros de confiança da UMG os transportam através do rio para a Coreia do Norte, correndo grande risco.

As séries dramáticas da TV sul-coreana (os populares “doramas”) podem parecer inofensivas, mas revelam muito sobre a vida cotidiana no país — pessoas morando em apartamentos altos, dirigindo carros velozes e comendo em restaurantes de luxo. Isso destaca tanto a liberdade deles quanto o atraso da Coreia do Norte.

E desafia uma das maiores invenções de Kim: a de que os habitantes do Sul são pobres e miseravelmente oprimidos.

É difícil saber exatamente quantas pessoas acessam os pen drives, mas depoimentos de desertores recentes parecem sugerir que as informações estão se espalhando e causando impacto.

“A maioria dos desertores e refugiados norte-coreanos recentes dizem que foi o conteúdo estrangeiro que os motivou a arriscar suas vidas para escapar”, diz Sokeel Park, cuja organização Liberty in North Korea (“Liberdade na Coréia do Norte”, na tradução) trabalha para distribuir esse conteúdo.

Não há oposição política nem dissidentes conhecidos na Coreia do Norte, e reunir-se para protestar é muito perigoso, mas Park espera que alguns se sintam inspirados a realizar atos individuais de resistência.

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