Domingo, 19 de outubro de 2025

As indicações de Lula vão levar para o Comitê de Política Monetária do Banco Central nomes que tendem a favorecer uma queda mais rápida da taxa básica de juros

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a indicação de Gabriel Galípolo, seu secretário executivo, para a diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC). Para a outra diretoria vaga do BC, a de Fiscalização, o escolhido pelo governo foi Ailton Aquino, chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira, ligado à diretoria de Administração do BC. As indicações, as primeiras do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, caso confirmadas no Senado, vão levar para o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC nomes que tendem a favorecer uma queda mais rápida da taxa básica de juro, a Selic, do que a composição atual do colegiado.

Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, a ida de Galípolo para o BC faz parte de um movimento do governo de mudar a autarquia por dentro. A indicação vem no momento em que a pressão pela redução da Selic confronta a liderança de Roberto Campos Neto, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro e detentor de mandato até 31 de dezembro de 2024. O Copom tem nove membros com direito a voto, sendo presidido pelo chefe do BC, que tem o voto de qualidade.

Aquino, que já foi auditor-chefe do órgão, é bem avaliado, conhecido por posições técnicas, internamente. Caso confirmado pelo Senado, será o primeiro diretor negro do BC.

Mercado

Questionado sobre como seria a reação do mercado a Galípolo, o ministro da Fazenda tentou mostrar que o indicado tem a simpatia do próprio chefe do BC. Apesar disso, o dólar fechou em alta de 1,37%, cotado a R$ 5,0115. Já a Bolsa subiu 0,85% com commodities e bons resultados de bancos.

Haddad afirmou que a primeira vez que ouviu o nome de Galípolo como possibilidade de indicação para o BC foi da boca de Campos Neto. “Eu estava no G20, na Índia, fomos almoçar juntos (Haddad e Campos Neto), e foi a primeira pessoa que mencionou a possibilidade de o Galípolo ir para o BC, no sentido de entrosar as equipes do BC e da Fazenda”, afirmou o ministro, ao lembrar que Galípolo já foi presidente de banco – o Fator.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, a indicação de Galípolo antecipa o perfil da troca na chefia do BC. “A indicação dá uma sinalização muito clara para as próximas trocas e para a própria troca de presidente (do BC) no ano que vem, que caminha para um BC mais à esquerda, pensando em quedas mais fortes de juros à frente”. Ele disse esperar que os nomes a serem anunciados trabalhem sob o ponto de vista técnico, e não político.

Para o lugar de Galípolo na secretaria executiva da Fazenda, Haddad escolheu Dario Durigan, que foi seu assessor especial na Prefeitura de São Paulo e é chefe de políticas públicas do WhatsApp no Brasil.

Sucessão

Economistas disseram que a indicação de Galípolo para a direção de Política Monetária do BC sinaliza como será o perfil das escolhas do governo para ocupar a direção da autoridade monetária. O governo terá mais duas trocas para fazer até 31 de dezembro deste ano, para os cargos de Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e de Mauricio Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.

Além disso, no próximo ano, em conjunto com a escolha do novo presidente que irá suceder a Roberto Campos Neto, há outras duas trocas a serem feitas nas diretorias da autoridade.

Para Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, a repercussão da indicação de Galípolo dependerá das próximas declarações dele sobre a economia e a condução da política monetária no País.

“Vai ser importante ouvir o que ele tem a dizer na sabatina do Senado e, em particular, qual é a posição dele sobre a execução da política monetária, se ele vai professar ou não as teses da MMT (Teoria Monetária Moderna, na sigla em inglês), que tem gerado mais nervosismo no mercado”, diz Kawall.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Economia

Projeto de Lei do Agrotóxico deve avançar no Senado com o apoio de governistas
Indicado para diretoria do Banco Central é mestre em economia e é apontado por colegas como um negociador habilidoso com contatos no setor empresarial e financeiro e que gosta de trabalhar em equipe
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play