Quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ata do Copom mostra que, sem ajuste fiscal, o Brasil sob o governo Lula não terá juros baixos até as eleições de 2026

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT esperam cortes de juros para alavancar a economia com a proximidade das eleições de 2026, o recado dado pelo Banco Central nessa terça-feira (24) vai exatamente na direção contrária. Em uma mostra de independência em relação ao Poder Executivo, o BC comandado por Gabriel Galípolo reafirmou na Ata do Copom que a Selic permanecerá em 15% por um período “bastante prolongado” e que “não hesitará” em subir os juros se isso for necessário.

A decisão ignora as pressões políticas (ainda muito menores do que as sofridas por Campos Neto, é verdade) e segue critérios absolutamente técnicos. É que o BC enxerga que o cenário para a inflação é desafiador em “diversas dimensões”. Com um diagnóstico desse tipo, é impensável falar em cortes de juros, como desejam diversos integrantes do Palácio do Planalto e da equipe econômica.

“O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho”, diz o Banco Central, que também deu bastante ênfase às incertezas externas, com as tarifas de Donald Trump e o conflito que se agrava no Oriente Médio.

O BC pediu, mais uma vez, que as políticas fiscal e monetária sejam “harmoniosas”, o que significa que, na visão dos diretores do Banco Central, o controle de gastos pelo governo ainda é insuficiente. O entendimento é que a política fiscal dá “estímulo à demanda agregada” no curto prazo, ou seja, estimula o crescimento, e aumenta os prêmios de risco (leia-se dólar e juros) pelo avanço das incertezas, no médio prazo.

Apesar disso, viu com bons olhos as discussões sobre cortes tributários e os debates sobre novas reduções de gastos primários, após as idas e vindas criadas pela Fazenda, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

“O debate mais recente, com ênfase na dimensão estrutural do orçamento fiscal e na redução ao longo do tempo de gastos tributários, tem potencial de afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida e de ter impactos sobre o prêmio da curva de juros”, diz o Banco Central.

Os cenários precificados pelo mercado, após a decisão da última quarta-feira, agora sugerem que a Selic ficará parada em 15% até o primeiro trimestre de 2026. Esse é o tempo que o governo federal terá para dar alguma solução para a incerteza fiscal, e ajudar no controle das expectativas.

Se essa agenda falhar, ainda que o BC comece a cortar juros no início de 2026, os seus efeitos sobre a economia real e a dinâmica eleitoral de outubro serão praticamente nulos. (Opinião por Alvaro Gribel/O Estado de S. Paulo)

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