Domingo, 25 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 24 de maio de 2025
Ainda que os participantes do mercado tenham avaliado o recente anúncio do governo de aumentar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como algo negativo, o encarecimento no custo do crédito é observado por gestores como uma medida que pode contribuir para o trabalho do Banco Central de esfriar a atividade econômica e, assim, consolidar o movimento da queda nos juros no Brasil.
Nesse contexto, alguns investidores passaram a ver um espaço maior para apostar na queda das taxas futuras. Além disso, aumenta a possibilidade de o BC interromper o ciclo de alta de juros da Selic, hoje em 14,75%. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa nos últimos seis encontros, será em meados de junho.
O movimento de mercado na sexta-feira (23), quando foi confirmada a reversão parcial do aumento na alíquota do IOF, mas que manteve a cobrança maior sobre o mercado de crédito, corroborou a leitura. A despeito de as taxas de longo prazo terem encerrado o dia em leve alta — pressionadas pela impressão majoritária dos agentes de que os riscos fiscais cresceram após a nova investida do governo para ampliar a arrecadação —, os juros curtos fecharam em queda.
O movimento de mercado na sexta-feira, dia em que foi confirmada a reversão parcial do aumento na alíquota do IOF, mas que manteve a cobrança maior sobre o mercado de crédito, corroborou a leitura. A despeito de as taxas de longo prazo terem encerrado o dia em leve alta – pressionadas pela impressão majoritária dos agentes de que os riscos fiscais cresceram após a nova investida do governo para ampliar a arrecadação, os juros curtos fecharam em queda.
No fim do dia, a taxa do DI para janeiro de 2027 oscilou de 14,02% para 13,985% e, mesmo no auge do estresse da sessão, quando os juros de longo prazo chegaram a avançar 0,2 ponto, as taxas curtas se mantiveram relativamente comportadas. No mercado de opções digitais, a probabilidade de manutenção da Selic nos atuais 14,75% em junho subiu de 69% para 72%, enquanto a chance de uma alta de 0,25 ponto recuou de 24,5% para 22%.
Na visão do sócio e diretor de investimentos (CIO) da Legacy Capital, Felipe Guerra, haverá um impacto relevante sobre as empresas, que sofrerão um aperto de crédito importante, que pode ser equivalente a duas altas na taxa básica de juros.
“Acredito que, no câmbio, a intenção era, de fato, arrecadar, não a de fazer um controle de capitais. Foi em linha com a mentalidade de ‘Robin Hood’ do Ministério da Fazenda, só que de forma atabalhoada. E, do lado do crédito, fica um aperto importante sobre as empresas que irá afetar o setor varejista e as pequenas e médias empresas”, diz Guerra. Para ele, embora o governo tenha voltado atrás em parte das medidas, a condição de crédito mais apertada à frente ficou, o que pode contribuir para uma desaceleração adicional da economia.
Ao avaliarem os efeitos das medidas no mercado de crédito, os economistas Caio Megale e Rodolfo Margato, da XP, estimam o impacto como sendo equivalente a uma alta de 0,4 ponto percentual na taxa Selic no mercado de crédito como um todo.
E, embora ressaltem que o crédito não é o único canal de transmissão da política monetária, os economistas passaram a acreditar que o BC irá encerrar o ciclo de aperto monetário em junho. “Parece razoável dizer que o IOF mais alto substitui, em nosso cenário-base, o último aumento de 0,25 ponto que projetávamos para junho”, dizem Megale e Margato.
Na visão dos economistas, esse já parecia ser o plano central do BC, na medida em que o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, “tem concentrado seus discursos em sinalizar juros altos por um período prolongado, e não em discutir a necessidade de uma nova alta”. “Um risco para o cenário inflacionário seria uma desvalorização intensa do real em resposta às medidas, mas, até agora, o câmbio se manteve relativamente estável após a volatilidade inicial.”
Em condição de anonimato, o gestor de um grande fundo local revela que mantém apostas vendidas na bolsa. Segundo ele, a recente alta do Ibovespa, em meio aos juros que devem permanecer elevados até o fim do ano, já justificariam a aposta. “Mas o governo ainda vai lá e aumenta o custo financeiro das empresas por meio do IOF… Aumento de impostos diminui a produtividade, no fim das contas, não é bom para as empresas”, afirma o gestor, que também mantém posições na queda dos juros nominais e reais no Brasil.