Segunda-feira, 12 de maio de 2025

Baixa qualidade dos cursos de formação dos professores afeta desempenho escolar do País

Nada influencia tanto a aprendizagem na sala de aula como a qualidade dos professores. No ensino fundamental, esse fator é responsável por 57,76% do desempenho dos alunos das redes municipais. No ensino médio estadual, a parcela é de 36%. A conclusão é de estudo do Instituto Península, conduzido pelos professores Fernando Abrucio e Gustavo Fernandes, do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAG), da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para dimensionar a influência, os pesquisadores compararam o peso da docência com outros fatores, como tamanho das turmas, grau de escolaridade dos pais, diferentes formas de infraestrutura disponível nas escolas e características do poder executivo.

A pesquisa também identificou três pilares essenciais para a qualidade dos professores: 1. Formação inicial, 2. Políticas de indução à carreira e 3. O desenvolvimento dos profissionais ao longo da carreira. Em todos eles, especialistas em educação apontam obstáculos. “A formação inicial no Brasil é muito falha e piorou demais na última década, com o aumento dos cursos à distância [EAD]”, afirma Abrucio.

Nas graduações voltadas à docência em geral, como letras e matemática, 71% dos diplomados em 2023 concluíram cursos EAD. Em pedagogia, a parcela é ainda maior: 86,8%. “É impossível formar bons professores à distância”, afirma Priscila Cruz, presidente executiva da ONG Todos pela Educação. “O professor é a única profissão que reproduz as aulas no dia a dia profissional e não dá para fazer isso na sala presencial quando se estuda online”, argumenta ela.

Além disso, independentemente da modalidade, as atividades voltadas ao ensino ocupam pouco espaço nos cursos universitários. O modelo vai na contramão da estratégia adotada por Singapura, líder das provas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

“Lá, 70% da formação dos professores é dedicada ao currículo escolar e às diferentes estratégias pedagógicas. Os 30% restantes contemplam disciplinas teóricas, como filosofia e teorias da educação”, conta o CEO da Fundação Lemann, Denis Mizne. “No Brasil, acontece o oposto: 70% de foco na teoria e só 30% na prática – ou até menos, já que o estágio costuma ser mal feito, sem orientação adequada.”

A ex-diretora global de educação do Banco Mundial e presidente do Instituto Salto, Claudia Costin, pensa parecido. “Imagine que sete em cada dez médicos se formassem por EAD, quase exclusivamente com aulas sobre a história e a filosofia da medicina, para depois operar um cérebro”, diz. “É o que, metaforicamente falando, nós fazemos com as crianças”. A especialista conta que no Chile, primeiro colocado do Pisa na América Latina, a convergência entre teoria e prática é bem maior, com estágios em escolas desde o primeiro ano do curso universitário.

Também impacta na formação brasileira o nível acadêmico dos alunos que chegam à faculdade. Segundo o estudo de Abrucio e Fernandes, os melhores estudantes do ensino médio tendem a buscar profissões mais valorizadas. Nesse contexto, tornar-se professor é opção de somente 2,3% dos estudantes brasileiros de 15 anos, segundo a OCDE. Outra vez, Singapura é contraponto. “Lá só pode ser professor quem se formou entre os 30% melhores alunos do ensino médio, pois não dá certo formar a próxima geração com os piores alunos”, explica Mizne.

Formação contínua

Em Singapura e em outros ocupantes do topo do Pisa, como Estônia, a preparação também continua após a faculdade. “São países com grande investimento na formação dos novos professores nos primeiros cinco anos de carreira, enquanto aqui eles caem na escola sem que nada se faça para melhorar o desempenho.”

“A profissão docente é uma profissão coletiva”, diz Abrucio. Por isso ele defende a ampliação da educação em turno integral, que hoje na rede pública do ensino fundamental varia de 3,1% das matrículas em Roraima a 54,9% no Ceará. Com mais tempo na escola não só os alunos aprendem mais, como os professores podem se fortalecer como equipe, argumenta. Segundo ele, muitos professores desistem da carreira por falta de apoio institucional. “Não é só o salário que conta, até porque, conforme a região do Brasil, o piso federal [R$ 4,8 mil] é competitivo com o de outras profissões”.

Possibilidade de crescimento profissional também pode ajudar a manter na rede bons educadores. E, novamente, Singapura é referência. “Lá, crescer na carreira não significa, necessariamente, tornar-se diretor de escola – função que exige outro conjunto de habilidades -, mas pode ser [tornar-se] ‘master teacher’”, afirma Mizne. Entre as funções desse cargo está liderar programas de desenvolvimento docente ou apoiar outros professores, sem ter, necessariamente, envolvimento com tarefas administrativas.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de educação

Entenda por que o presidente chinês Xi Jinping quer estar próximo de Vladimir Putin, mas com cautela
Entenda a estratégia de negociação de Trump com a China
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play