Terça-feira, 08 de julho de 2025

Banco de areia no Guaíba existe há mais de 60 anos e não tem influência nas enchentes, dizem especialistas

O banco de areia do Guaíba junto à Ilha das Balseiras, em Porto Alegre, não foi gerado pelas tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio do ano passado. De acordo com o governo gaúcho, a estrutura é mencionada em mapas do Exército e da Marinha elaborados com base em levantamentos da primeira metade da década de 1960.

“Esse tipo de formação geológica ocorre devido a um processo natural de sedimentação e, apesar de o banco ter aumentado de tamanho após o evento extremo do ano passado, isso não representa risco maior de inundações na Capital”, detalha um texto publicado nessa segunda-feira (7) pelo site estado.rs.gov.br. “Nem interfere na capacidade de navegação fluvial.”

Antigos documentos cartográficos das Forças Armadas já apontavam uma área de deposição de sedimentos ao redor da Ilha das Balseiras. Isso inclui a chamada “Coroa da Balseiras”, representada graficamente por um pontilhado para sinalizar o banco de areia envoltório.

Imagens de satélite também comprovam que a formação já existia muito antes do ano passado. Um exemplo é uma imagem registrada em 2020 e na qual o banco de areia aparece de forma nítida. A visibilidade varia conforme o nível das águas.

Com a palavra…

“Trata-se de uma formação natural na área do delta do rio Jacuí, onde sedimentos são depositados, e sua influência é desprezível para as cheias do Guaíba”, enfatiza o especialista Fernando Mainardi Fan, doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS).

Para os leigos, ele traça um paralelo com a ocorrência de um congestionamento de veículos no trecho da BR-20 conhecido como Freeway: “É a mesma influência no engarrafamento da rodovia provocado por um veículo parado naquelas áreas para descanso. Ou seja, praticamente nenhum”.

O analista-chefe do Departamento de Qualidade da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Glaucus Ribeiro, acrescenta:

“Esse banco de areia foi identificado na década de 1960. Houve um crescimento em razão do evento adverso de 2024, porque processos dessa magnitude sempre deixam marcas na paisagem. Porém trata-se de uma área muito pequena em relação à dimensão do Guaíba. Tecnicamente, essa porção de areia não trará efeitos no que tange a inundações em Porto Alegre, e sua remoção seria ineficaz no que diz respeito ao controle de enchentes”.

Fenômeno natural

Reforçando esse entendimento, o professor Joel Goldenfum, secretário-executivo do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul, explica que a formação de bancos de areia é um fenômeno natural em ambientes que se comportam de maneira semelhante a lagos. É o caso do Guaíba. Nesses cursos d’água, o material em suspensão transportado pelas águas tende a se depositar quando a velocidade da corrente diminui.

“A formação de bancos de areia nesse tipo de ambiente é um processo absolutamente normal, comum em áreas onde a água perde velocidade, o que favorece a deposição de material em suspensão. Primeiro, formam-se bancos de areia e, à medida que eles vão crescendo, podem ou não se tornar ilhas”, detalha. “As Ilhas dos Marinheiros e da Pintada, por exemplo, se formaram por meio de processos semelhantes, mas num intervalo de tempo bem maior.”

O professor também aponta que, nesse caso, a dragagem é desnecessária. “Não há nenhum motivo técnico para isso. O volume do banco de areia é muito pequeno se comparado ao volume total do Guaíba. Além de ser um processo que demanda altos investimentos, não há indicativos de que sua retirada possa ter um impacto significativo no controle de enchentes”, ressalta.

Além disso, segundo a empresa Portos RS, a área onde está localizado o banco de areia é muito distante do canal de navegação e não oferece qualquer risco ao transporte de cargas.

Desassoreamento de rios

Por meio do “Plano Rio Grande”, o governo está executado o programa “Desassorear RS”. O objetivo é promover o desassoreamento e a limpeza de recursos hídricos. São dois eixos.

O primeiro envolve pequenos rios, arroios, canais de drenagem e sistemas pluviais em 154 cidades de diversas regiões do Estado. São R$ 301 milhões via Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs).

Já o segundo envolve grandes rios e depende da conclusão da batimetria, que consiste no mapeamento da topografia do fundo dos rios, por meio de GPS de precisão e outros equipamentos, a fim de indicar onde é necessário o desassoreamento. Os trabalhos começaram nessa segunda-feira em trecho do rio Taquari próximo a Triunfo.

(Marcello Campos)

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