Quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Bancos americanos usaram 165 bilhões de dólares de linhas especiais do Banco Central dos Estados Unidos

Em mais um sinal da escalada da crise em bancos médios e regionais dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) informou que as instituições bancárias americanas usaram um total de US$ 164,8 bilhões em linhas especiais de crédito em uma semana, ou nos sete dias até 15 de março.

São empréstimos concedidos pelo Fed em situações pouco comuns, usados normalmente por bancos quando estes enfrentam problemas de liquidez (ou seja, mais resgates do que depósitos).

Os bancos usaram US$ 152,85 bilhões de uma linha conhecida como “discount window” (ou “janela para redesconto”, numa tradução livre), disponível para quem precisa de recursos imediatos em momentos pontuais de escassez de liquidez.

No auge da crise financeira de 2008, o montante semanal de “discount window” chegou a US$ 111 bilhões.

No balanço semanal anterior, encerrado em 8 de março, o valor usado nesta modalidade foi de US$ 4,58 bilhões.

Além disso, os bancos usaram US$ 11,9 bilhões de uma outra linha emergencial de crédito criada pelo Fed no último domingo, após o colapso do SVB.

Apesar do montante expressivo de linhas emergenciais usadas pelos bancos americanos, os números não surpreenderam os analistas, diante da crise nas instituições regionais dos EUA.

“Está dentro do que esperávamos”, resumiu Michael Gapen, do Bank of America Securities em Nova York.

Após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, na quinta-feira à noite foi a vez do First Republic Bank ser socorrido. Grandes bancos dos EUA concordaram em injetar cerca de US$ 30 bilhões no banco numa ação coordenada pelo governo para estabilizar mais uma instituição em crise.

Antes disso, no domingo o Tesouro americano acionou mecanismos só usados em momentos de crise para garantir os depósitos de clientes do Silicon Valley Bank e do Signature Bank.

Normalmente, apenas depósitos de valores até US$ 250 mil têm a garantia do Tesouro. Mas o governo decidiu elevar esta proteção para contas de qualquer valor numa tentativa de estancar a crise.

Efeito dominó

O CEO da BlackRock, Larry Fink, disse que a crise bancária pode piorar além do impacto causado pela falência do Silicon Valley Bank. O executivo chamou a atenção para rachaduras no sistema financeiro que se formaram durante mais de uma década de dinheiro fácil e juros baixos.

“Os dominós estão começando a cair?” questionou Fink, também presidente do conselho da maior gestora de ativos do mundo, em carta. “É muito cedo para saber a extensão do dano.”

Com 70 anos, Fink disse que, embora as medidas dos reguladores tenham aliviado o problema no momento, o colapso do Silicon Valley Bank e do Signature Bank na semana passada lembra “crises financeiras espetaculares”, entre elas a crise de poupança e empréstimos nas décadas de 1980 e 1990 e a falência do condado de Orange County, na Califórnia, em 1994.

“Ainda não sabemos se as consequências do dinheiro fácil e das mudanças regulatórias se espalharão pelo setor bancário regional dos EUA (semelhante à crise da poupança e empréstimos) com mais confiscos e fechamentos à frente”, afirmou Fink.

Fink disse que alguns bancos provavelmente precisarão reduzir a oferta de crédito para fortalecer seus balanços e que reguladores tendem a impor padrões de capital mais rígidos.

A economia e o sistema financeiro entraram em um novo período, explicou Fink, com inflação elevada e o contínuo aumento dos juros pelo Federal Reserve. Nas projeções do executivo, a inflação deve ficar perto de 3,5% ou 4% nos próximos anos.

“Como a inflação permanece elevada, o Federal Reserve permanecerá focado no combate à inflação e continuará a aumentar as taxas. Embora o sistema financeiro esteja claramente mais forte do que em 2008, as ferramentas monetárias e fiscais disponíveis para formuladores de políticas e reguladores para lidar com a crise atual são limitadas, especialmente com um governo dividido nos Estados Unidos”, disse.

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