Segunda-feira, 19 de maio de 2025

Barbárie em Brasília: urinaram na tapeçaria de Burle Marx no Congresso Nacional

Durante a invasão manifestantes contrários ao governo atual ao Senado e às outras sedes de instituições federais na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (8), uma valiosa peça de tapeçaria feita por Burle Marx foi vandalizada. Os golpistas rasgaram e urinaram na obra, que ficava exposta na parede do Salão Negro.

O Senado estima um gasto de até R$ 3,5 milhões para recuperar a obra do artista plástico e paisagista brasileiro. Natural de São Paulo, Roberto Burle Marx morreu aos 84 anos, em 4 de junho de 1994, no Rio de Janeiro.

A obra em questão foi criada em 1974 e faz parte do patrimônio do Senado. A tapeçaria leva as cores verde, vermelho, azul, preto e branco.

“Tivemos danos de todos os tipos, alguns até simbólicos. Alguém urinar na tapeçaria de Burle Marx é muito agressivo”, afirmou Ilana Trombka, diretora-geral do Senado.

Alguns manifestantes bolsonaristas ainda não aceitaram a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022. Na ocasião, o então presidente foi derrotado por Lula (PT) no segundo turno, em 30 de outubro, por 50,9% dos votos válidos contra 49,1%. Lula tomou posse como presidente em 1º de janeiro de 2023.

Sem restauro

Enquanto o governo federal prossegue no levantamento das obras atingidas pela invasão do Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e Congresso, já está claro que algumas delas não têm condições de ser restauradas – entre elas o relógio do século 17 do francês Balthazar Martinot, relojoeiro de Luiz XIV, presenteado a d. João VI pela corte francesa e completamente destruído pelos vândalos.

Outra obra danificada foi uma escultura de Franz Kracjberg, Galhos e Sombras, avaliada em R$ 300 mil, que teve galhos quebrados (a escultura usa uma árvore reciclada) e atirados ao piso do Palácio do Planalto. Entre as obras atingidas, a mais valiosa é o painel As Mulatas, do modernista Di Cavalcanti, perfurado em sete pontos, cujo valor estimado é de R$ 8 milhões. O valor dessas obras atacadas supera a marca dos R$ 10 milhões.

No Congresso, o prejuízo contabilizado até o momento chega a R$ 3 milhões. A exemplo do Palácio do Planalto, há na lista do governo peças como um vitral assinado por Athos Bulcão, artista próximo de Oscar Niemeyer que projetou azulejos e decorou prédios inteiros em Brasília, entre eles a capela do Palácio do Planalto. No STF – o prédio mais intensamente atingido pelos vândalos –, os prejuízos causados ao patrimônio público chegam a R$ 4 milhões.

Durante os atos de destruição das casas dos Três Poderes, vários objetos valiosos foram roubados e estão desaparecidos – entre eles vasos chineses de porcelana, uma peça rara feita de pérolas e ouro e presenteada pelo ministro do Catar em visita ao Brasil, além de outra peça de ouro cravejada com cristais Swarowski, presente da Câmara dos Deputados da Índia.

A expectativa é que o balanço final das obras de arte atingidas pelos vândalos que invadiram os Três Poderes em Brasília seja concluído até sexta-feira, mas algumas obras já são dadas como irrecuperáveis. Uma delas é a escultura O Flautista, de Bruno Giorgi, avaliada em R$ 250 mil, cujos fragmentos foram encontrados no chão do Planalto.

No Supremo Tribunal Federal, a destruição começou já na área externa com a pichação da escultura que representa a Justiça – uma peça de granito de Alfredo Ceschiatti, de 1961, atacada por um golpista que atingiu a imagem de uma Têmis sentada com a frase “Perdeu Mané”, referência à resposta que o ministro Luís Roberto Barroso deu a um bolsonarista que o provocou em Nova York, há dois meses.

O diretor de curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, afirmou, em nota publicada pela Presidência da República, que será possível recuperar a maioria das obras vandalizadas em ataques golpistas em Brasília. Ainda que isso aconteça, o ataque aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na tarde de domingo, deixou cicatrizes na democracia e na cultura brasileira. O Palácio tem em sua coleção um resumo da arte brasileira desde a colônia ao advento do modernismo brasileiro, que coincidiu com a fundação de Brasília (Volpi, Bonadei, Djanira, Milton Dacosta, Maria Leontina, Maria Martins, Portinari).

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