Domingo, 26 de outubro de 2025

Beber água de garrafas plásticas deixadas no carro é seguro? O que diz a ciência

A cena é comum: em um dia quente, alguém entra no carro e encontra uma garrafa plástica com água esquecida no porta-copos. Surge a dúvida: será que beber essa água faz mal à saúde? Pesquisadores afirmam que a resposta exige cautela.

Estudos mostram que garrafas plásticas, especialmente as descartáveis, podem liberar partículas de plástico e substâncias químicas na água em determinadas condições, como calor e tempo prolongado de armazenamento. Essas garrafas são feitas de politereftalato de etileno (PET), um material cuja estrutura, segundo cientistas, permite a migração de moléculas para o líquido.

“Esse processo acontece lentamente ao longo do tempo”, explica Bill Carroll, professor de química da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

Para Jaime Ross, professora de neurociência da Universidade de Rhode Island, o risco eventual pode ser baixo, mas a exposição frequente merece atenção. “Se isso acontece só de vez em quando, os riscos à saúde provavelmente são baixos, mas exposições repetidas ou contínuas exigem cautela”, afirma.

A pesquisadora alerta ainda para outro fator: depois de aberta, a garrafa não deve ser mantida em ambientes quentes. “O calor pode favorecer o crescimento de microrganismos”, acrescenta.

O impacto dos micro e nanoplásticos no corpo humano tem sido cada vez mais estudado. Os nanoplásticos, ainda menores que os microplásticos, conseguem atravessar tecidos do fígado, rins, cólon, placenta, pulmões, cérebro e coração. “Eles podem infiltrar-se nas células do sangue e até mesmo no leite materno”, explica Nicole Deziel, professora de saúde ambiental da Universidade de Yale e codiretora do Centro de Epidemiologia Perinatal, Pediátrica e Ambiental da instituição.

Esses plásticos podem carregar substâncias químicas como fenóis e ftalatos, já associados a complicações na gravidez e alterações no desenvolvimento neurológico. No entanto, os especialistas destacam que a ciência ainda não compreende completamente os efeitos à saúde. “Os impactos de micro e nanoplásticos começaram a ser estudados apenas nos últimos anos. Mais pesquisas são necessárias”, reforça Nicole.

A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos equivalente à Anvisa no Brasil, é responsável pela fiscalização da segurança da água engarrafada e das embalagens. Já a Associação Internacional da Água Engarrafada (IBWA, na sigla em inglês) sustenta que “não há base científica suficiente para concluir que a água seja uma das principais vias de ingestão de micro e nanoplásticos”. A entidade lembra ainda que não existem métodos de teste padronizados nem consenso científico sobre os riscos desses materiais.

Apesar das incertezas, especialistas recomendam cautela e sugerem reduzir o uso de plásticos sempre que possível. Mas ponderam: em caso de necessidade, beber água de uma garrafa esquecida no carro é melhor do que enfrentar a desidratação. “Os perigos da desidratação são muito maiores do que os riscos de exposição aos microplásticos”, afirma Christopher Hine, pesquisador do Departamento de Ciências Cardiovasculares e Metabólicas da Cleveland Clinic.

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