Segunda-feira, 19 de maio de 2025

Bebês reborn: bonecas hiper-realistas que viraram fenômeno na internet podem ter funções terapêuticas, diz psicóloga

Há tempos, brincar de boneca não era uma pauta tão discutida na internet como tem sido nas últimas semanas. Levar o brinquedo para passear, ao médico e até simular um parto são atividades da rotina de colecionadoras e donas dos bebês reborn, bonecas hiper-realistas que possuem aparência, peso e tamanho parecidos com os de um bebê recém-nascido de verdade.

A brincadeira, que é muito comum durante a infância, acabou se tornando um hobby da vida adulta. Segundo a psicóloga e professora Desirée Cassado, de Sorocaba (SP), brincar ou colecionar bonecas, especialmente se forem feitas com o realismo das reborn, pode servir como um refúgio para pessoas que possuem algum tipo de trauma, além de promover o senso de cuidado e carinho para as crianças que ganham estes brinquedos.

No entanto, a profissional salienta que é necessário se atentar à realidade e não deixar que a brincadeira se transforme em um prejuízo para a autonomia e os vínculos sociais de uma pessoa, que pode acabar se apegando a objetos que representam a possibilidade de cuidado.

“A primeira coisa que me ocorre é: por que a brincadeira feminina incomoda tanto? Quando uma mulher adulta se dedica ao cuidado de uma boneca, a reação coletiva parece ser de escárnio ou suspeita. Quando um homem adulto se dedica a videogames ou a se fantasiar de Jedi [de ‘Star Wars’], colecionar carrinhos de controle remoto, tênis de marca ou sabres de luz, ninguém se pergunta se ele precisa de ajuda. Mas há muitos significados possíveis para comportamentos com as bonecas reborn — e nem todos exigem intervenção clínica”, explicou Desirée.

Segundo a especialista, algumas pessoas podem encontrar em suas bonecas um espaço simbólico de reparação ou de socialização. Isso quer dizer que conseguem arranjar uma forma de ressignificar sua história, seja com afetos que lhes foram negados ou lidar com o luto, perdas gestacionais, infertilidade ou vivências de privação material.

“Nosso papel, como sociedade e como profissionais da saúde mental, não é julgar o comportamento em si, mas entender o que ele comunica e como ele se encaixa, ou não, na vida daquela pessoa. Só há motivo para intervenção quando se transforma em sofrimento. Fora isso, talvez seja só mais uma forma de elaborar o mundo, como tantas outras”, afirma.

Desirée ainda conta que a aquisição de bonecas e de bebês reborn pode ser uma forma de evitar a solidão e a carência. De acordo com ela, o que alguns internautas podem chamar de “comportamento exagerado” às vezes é só uma forma original de lidar com algo difícil.

A profissional também destaca que há outras formas de responder à solidão e ao desejo de cuidado, como adotar um pet, investir em relações nutritivas ou buscar apoio psicológico. Mas nenhuma destas opções é mais certa ou superior que a outra, pois a prioridade é que a escolha seja consciente, respeitosa e não cause prejuízos.

O mesmo serve para o desenvolvimento infantil. Desirée explica que, quando as crianças simulam gestos de afeto com bonecas, estão ensaiando vínculos, experimentando empatia e expressando, às vezes pela primeira vez, o que é cuidar e ser cuidado, e isso deve ser estimulado para meninas e meninos.

“Quanto às bonecas reborn, o realismo pode ser fascinante para algumas crianças, mas o mais importante é a liberdade da brincadeira. Se a boneca é um bebê reborn ou uma de pano com um olho faltando, tanto faz. O que conta é o que a criança faz com aquilo. É o espaço de imaginação, não o realismo do objeto, que promove o desenvolvimento emocional”, finaliza.

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