Quinta-feira, 03 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 22 de outubro de 2023
O programa espião de monitoramento de celulares usado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão de Jair Bolsonaro armazenava em um servidor em Israel, sede da empresa responsável pela tecnologia, dados de alvos de operações no Brasil. De acordo com integrantes da agência, conservar em outro país informações sobre telefones vigiados representou um risco de vazamento de missões estratégicas e secretas do órgão.
De acordo com Eduardo Lopes, fundador e CEO da Redbelt Security, empresa especializada em segurança da informação, embora o sistema usado pela Abin seja sigiloso, as informações disponíveis apontam que ele era acessado online, com login e senha disponibilizados para a Abin. Conforme Lopes, portanto, qualquer pessoa de fora do órgão poderia acessá-lo.
“A partir do momento em que temos esses dados hospedados lá, todas as pessoas com acesso ao servidor, ao banco de dados, podem chegar até eles”, afirma. Para Lopes, seria possível ter mantido os servidores no Brasil.
“Os dados seriam mandados para cá e, através de uma auditoria, conseguiria se comprovar que não houve acesso de fora”, disse.
Para contratar a ferramenta espiã utilizada durante o governo Bolsonaro, a Abin se comprometeu a respeitar uma condição imposta pela fabricante do sistema, a empresa israelense Cognyte: não poderia monitorar cidadãos israelenses nem americanos.
A imposição se deu porque, ao comercializar sistemas espiões, Israel não permite que seus produtos sejam utilizados contra seus próprios cidadãos nem contra os de seu principal aliado estrangeiro, os Estados Unidos.
Em terras tupiniquins, uma investigação aberta pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concluiu que a Abin utilizou o programa espião sem o conhecimento das operadoras de telefonia. A Polícia Federal (PF) apura se houve omissão de servidores da Anatel e de representantes de empresas do setor.
O sistema aproveitava uma brecha na rede de telecomunicações para localizar os celulares. As operadoras, ao identificarem essas tentativas de acesso, tomaram medidas para evitar que continuassem. Esse é um dos pontos sob investigação da PF. De acordo com a Anatel, as empresas de telefonia já eliminaram esta vulnerabilidade do sistema.
Para os investigadores da Polícia Federal, o sistema utilizado pela Abin é “um software intrusivo na infraestrutura crítica da telefonia brasileira”. A cada busca realizada, portanto, a rede de telefonia teria sido invadida com a utilização de um serviço adquirido com recursos públicos, do próprio governo.
O rastreamento era possível porque os celulares precisam informar as torres das operadoras sobre a sua localização para, por exemplo, realizar ligações. Em outras palavras, para conectar dois aparelhos, o sistema de telecomunicação precisa saber onde eles estão.
De acordo com a Anatel, a Lei Geral de Telecomunicações e demais normas da telefonia em vigor preveem que as operadoras de telefonia devem utilizar recursos tecnológicos necessários para assegurar a inviolabilidade do sigilo das comunicações.