Segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de dezembro de 2025
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou por dois procedimentos de bloqueio do nervo frênico em menos de uma semana para tentar controlar crises persistentes de soluço. O nervo é responsável por enviar os comandos do cérebro ao diafragma, principal músculo da respiração.
As intervenções ocorreram durante internação iniciada na véspera de Natal, no dia 24 de dezembro, após transferência da Superintendência da Polícia Federal, onde ele está preso, para o Hospital DF Star, em Brasília. No sábado (27), foi feito o bloqueio do lado direito; nesta segunda-feira (29), o do lado esquerdo.
De acordo com o radiologista intervencionista Bernard Giancristoforo, da Rede D’oR no Rio de Janeiro e sócio da equipe Rivoa, o nervo frênico tem papel central na respiração por comandar o diafragma e também está envolvido nos reflexos que provocam o soluço.
Ele explica que o diafragma é o músculo que separa a cavidade torácica da abdominal e atua diretamente no ciclo respiratório. “Quando inspiramos, ele se contrai. Dessa forma, aumenta a cavidade torácica, diminui a pressão e facilita a respiração.”
Segundo o médico, o soluço é um reflexo que pode ter várias causas e começa com estímulos que chegam aos nervos sensitivos e ao cérebro, que então envia um comando para a contração do diafragma em forma de espasmos rápidos.
Além da respiração, o diafragma também participa de outros mecanismos do corpo, como tosse, espirro, vômito e o próprio soluço. O som característico do soluço ocorre porque, junto à contração do diafragma, outro nervo envia um sinal para o fechamento da glote, estrutura que ajuda a vedar a via aérea. Como a passagem do ar acontece de forma abrupta, surge o barulho típico.
Quando o soluço se torna persistente e não responde a medicamentos, pode ser indicada uma intervenção no nervo. Giancristoforo explica que uma das formas de tratamento é o bloqueio percutâneo, que não é feito por cirurgia convencional.
O procedimento é realizado por radiologia intervencionista, segundo o especialista, guiado por métodos de imagem, como ultrassonografia e tomografia. Com o auxílio dessas imagens, o médico posiciona uma agulha fina junto ao nervo e injeta um anestésico local, podendo associar corticoide para interromper temporariamente a condução do sinal. Segundo Giancristoforo, esses procedimentos costumam ser feitos sob sedação e anestesia local.
Contrações involuntárias
O coloproctologista Danilo Munhóz, especialista em cirurgia robótica, explica que, nos casos persistentes, existe uma irritação contínua do circuito reflexo responsável pelo soluço, o que faz com que o diafragma repita contrações involuntárias. Segundo ele, o bloqueio do nervo frênico é, na maioria das vezes, um procedimento feito com agulha, semelhante a um bloqueio anestésico.
“O nervo é localizado com ultrassom, geralmente na região do pescoço, e o anestésico é injetado ao redor dele para desligar temporariamente os sinais que chegam ao diafragma.” Munhóz diz que não se trata de retirada do nervo, congelamento ou queima, mas de um bloqueio químico temporário, que pode ser repetido se necessário.
Sobre o grau de invasividade, o especialista explica que o procedimento é minimamente invasivo, feito por punção, sem cortes amplos e sem abertura do abdômen, o que reduz o risco de complicações como aderências, mais comuns em cirurgias intra-abdominais.
Bloqueio do nervo
O neurocirurgião Pedro Henrique Cunha, médico da dor do Hospital Samaritano Higienópolis e do Samaritano Paulista, afirma que o bloqueio do nervo frênico tem como objetivo silenciar temporariamente a condução do estímulo que mantém os soluços refratários.
Segundo ele, o procedimento também é guiado por imagem e envolve a aplicação de anestésico local diretamente ao redor do nervo. Cunha explica que Bolsonaro passou por dois procedimentos porque existem dois nervos frênicos, um de cada lado do corpo, e que o bloqueio é feito de forma sequencial para evitar comprometimento respiratório. “Quando um lado é bloqueado, aquela metade do diafragma para temporariamente.”
Por isso, o segundo bloqueio costuma ser indicado apenas após avaliação da resposta clínica ao primeiro. Segundo os especialistas, o principal risco do procedimento é a alteração da mecânica respiratória, com possível sensação de falta de ar, especialmente em pessoas com doenças pulmonares, obesidade, apneia do sono ou menor reserva respiratória.
Outros riscos incluem dor no local da punção, hematoma, infecção e, mais raramente, efeitos relacionados ao anestésico. Durante a internação, a família afirmou que Bolsonaro apresentou alteração na pressão arterial e iniciou tratamento para apneia do sono. A equipe médica segue monitorando a evolução clínica e respiratória após os procedimentos.