Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 30 de janeiro de 2023
O mercado de renda variável sofre solavancos desde que a taxa básica de juros, a Selic, estagnou em 13,75% ao ano, fato que se somou a declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre temas como teto de gastos.
Pouco depois da posse, houve os atos extremistas em Brasília promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a crise motivada pelo rombo bilionário na Americanas, que pediu recuperação judicial e abriu uma guerra contra bancos credores.
Diante desse cenário de instabilidade, os investidores optaram por manter ou migrar seus investimentos para a renda fixa, fechando a porta para a realização de novas oferta de ações na Bolsa de Valores.
Segundo dados da B3 e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Bolsa caminha para fechar o primeiro janeiro desde 2019 sem uma única oferta de ações, seja ela um IPO (oferta primária) ou follow-on (secundária).
Esse empecilho se dá, principalmente, no processo de bookbuilding (registro de demanda). Para dar início a uma oferta de ações, as companhias contratam bancos para entrarem em contato com investidores apresentando a empresa e mostrando por que é interessante comprar aquela ação. Dessa forma, o preço do papel na oferta é definido a depender do interesse e demanda dos investidores.
Como não há apetite do mercado por renda variável neste momento, o valor da ação acaba não sendo atrativo. Por isso, as companhias têm engavetado o processo de abertura de capital.
Vale lembrar que as empresas realizam ofertas de ações porque uma porcentagem do que é vendido ao mercado fica no caixa da companhia. Mas com a perspectiva de a cotação ser menor, a captação de recursos também fica reduzida.
Motivos
Os primeiros dias do novo governo de Lula foram vistos com ressalvas pelo mercado financeiro, principalmente por conta de propostas e declarações que se chocam com os princípios do teto de gastos. Com isso, a Bolsa sentiu reflexos do aumento da sensação de risco fiscal no País.
Além disso, segundo especialistas, o governo também mostra alguns desencontros nos discursos do presidente e de sua equipe. “Enquanto ele diz uma coisa, seus ministros afirmam outra”, declara Josilmar Cordenonssi, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Isso gera muitas dúvidas sobre como serão as questões econômicas no novo governo”, diz.
Um dos casos de maior repercussão ocorreu com o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que no ano passado pediu para que a equipe econômica do governo derrotado nas urnas não prorrogasse a desoneração dos tributos sobre combustíveis. Porém, assim que assumiu, o presidente Lula acabou estendendo a medida.
Isso tem reforçado o temor de piora do quadro fiscal, o que obrigaria o Banco Central a manter por mais tempo os juros em patamares elevados. Quando a taxa Selic está elevada, os investidores tendem a ficar mais avessos a risco, optando por desmontar suas posições em ativos de renda variável.
Segundo entrevistados pelo E-investidor, a expectativa é de que um corte dos juros não deve acontecer antes do segundo semestre deste ano. Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne pela primeira vez no ano. A divulgação da manutenção, elevação ou diminuição da taxa deve ocorrer na noite desta quarta (1º).
Cenário
Os especialistas do mercado financeiro não enxergam com bons olhos o cenário das ofertas de ações para 2023.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial, diz que é preciso abrir espaço para uma redução na taxa de juros, o que só vai acontecer “se o governo adotar uma política de responsabilidade fiscal”.
Sendo assim, na visão de Villegas, enquanto o Ibovespa não chegar perto das máximas históricas, não haverá um apetite por risco, consequentemente reduzindo a possibilidade de novas ofertas.
O maior patamar alcançado pelo índice ocorreu em meados de maio e junho de 2021, quando rondou os 128 mil pontos – à época, a taxa Selic era de 3,50% ao ano.
Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, por sua vez, declarou que os próximos meses serão importantes para que se torne possível traçar uma projeção de retorno das ofertas, pois haverá sinais “mais claros” de quando ocorrerão os cortes de juros. Até lá, o governo também deverá ter apresentado suas propostas como a de uma nova âncora fiscal para o País. “Com a redução de juros no horizonte e perspectiva mais clara sobre a economia brasileira e internacional, as empresas podem se preparar para retornar ao mercado de capitais”, afirma.
Durante sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, o ministro da Fazenda declarou que deve apresentar o arcabouço no primeiro semestre de 2023; a expectativa é de que seja em abril.
Quanto aos juros, o boletim Focus divulgado na semana passada apontou que a taxa Selic deve terminar este ano a 12,50%, uma queda de 1,15 ponto porcentual em relação ao atual patamar.