Domingo, 20 de julho de 2025

Bolsonaro fora do caminho é ótimo para Tarcísio de Freitas, se for hábil

Já pipocam nas redes de esquerda comemorações pelas medidas de restrição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que por determinação do ministro Alexandre de Moraes passará a usar humilhante tornozeleira eletrônica, entre outras deliberações não muito edificantes.

Mas quem ganha com essa história, se tiver habilidade para isso, é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Pela simples razão de que a família Bolsonaro, por suas atitudes erráticas, pela fome de se manter com poder, é hoje o principal obstáculo para os movimentos políticos de Tarcísio, em empate técnico com Lula nas pesquisas.

Mas para isso, em primeiro lugar, o governador terá de pagar um pedágio, que pode até fazer parte de suas convicções. Precisará se mostrar solidário com o drama de seu mentor político. E acertar a dose. Se for muito tímido no desagravo, irá levar pedradas do bolsonarismo radical, hoje comandado dos Estados Unidos pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, vulgo 03. Se for muito incisivo no posicionamento, leva bala do mercado financeiro, do setor produtivo e até mesmo de gente do Centrão, essenciais aos seus supostos planos.

Os representantes do Centrão, aliás, também perceberam que Bolsonaro é hoje um problema sob a ótica da manutenção do poder. Na prática, o ex-capitão é, neste momento, o maior cabo eleitoral do presidente Lula. Percebam que no pronunciamento em rede na noite de ontem, na verdade, um comício consentido na TV, Lula escolheu seu adversário presidencial: o bolsonarismo. Por se aliarem a Trump e suas tarifas, foram taxados de inimigos da pátria. O presidente age respaldado por pesquisas de opinião.

Sem Bolsonaro no caminho, provavelmente na cadeia pela tentativa de golpe de Estado, restará ao lulismo tentar fundir a imagem de Tarcísio com a do radicalismo arrivista representado pelo padrinho. O governador tem cartas na manga para se livrar disso. Foi, por exemplo, chefe do poderoso Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) no governo Dilma Rousseff. Consta que se dava bem com a chefe. Tem também a saída discursiva de ser essencialmente um “gestor”.

Mais difícil será convencer ao bolsonarismo raiz de que Tarcísio é a melhor opção ao movimento. Que, se o objetivo for tirar Bolsonaro da cadeia, por meio de algum acordo (sim, o STF é hoje uma casa política), é melhor deixar de lado a intransigência e aceitar um candidato mais alinhado ao famigerado sistema. Um postulante que ainda possa trazer os votos de centro, decisivos para a vitória. A outra opção é ver Lula se reeleger e o sinal se fechar de vez. Mas, lembremos, racionalidade e sangue-frio não são o forte dessa turma. (Opinião por Fabiano Lana/O Estado de S. Paulo)

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Política

Tarcísio de Freitas defende Bolsonaro, mas poupa o Supremo de crítica
Trump e Lula: com cerco a Bolsonaro e sanções contra Alexandre de Moraes, margem para negociação entre Brasil e EUA é mínima
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play