Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de junho de 2025
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou, durante o interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), uma honraria que une sua história à da família de Mauro Cid – o coronel e ex-ajudante de ordens que o delatou.
A condecoração mencionada é o botão da Medalha do Pacificador com Palma. Essa honraria militar tem um significado especial para Bolsonaro, pois sua concessão esteve diretamente ligada a um episódio do passado que envolveu o general Cid, pai de Mauro Cid. Foi justamente o general Cid quem atuou para que Bolsonaro recebesse a medalha, como forma de suavizar o impacto das acusações de racismo contra o então deputado.
Tudo começou em março de 2011, quando Bolsonaro, ainda parlamentar, participou de um programa de entrevistas televisivo. Durante sua participação, ele ofendeu a cantora Preta Gil, filha do músico Gilberto Gil, com declarações consideradas racistas. A repercussão foi ampla, e o caso evoluiu para um processo judicial por racismo, atingindo em cheio a imagem do político.
Em 2013, já no curso desse processo, Bolsonaro procurou ajuda junto ao então general de Divisão Lourena Cid. Ele pediu ao general que usasse sua influência junto ao comandante do Exército à época, o general Enzo Peri, para ajudá-lo a obter uma condecoração militar. A justificativa apresentada foi um episódio ocorrido nos anos 1970, quando Bolsonaro ainda era tenente. Segundo seu relato, ele havia salvado um soldado negro que se afogava em um lago na região de Gericinó, no Rio de Janeiro.
Para verificar a veracidade do ocorrido, o próprio general Cid, que na ocasião era chefe de gabinete do comandante do Exército, mandou instaurar uma sindicância. O objetivo era comprovar se Bolsonaro de fato havia realizado o ato heroico que justificaria a condecoração.
O general Enzo, no entanto, resistiu à ideia de conceder a medalha. Ele temia que a política contaminasse o ambiente militar, e relutava em autorizar o reconhecimento oficial. A situação mudou apenas quando o general Eduardo Villas Bôas assumiu o comando do Exército. Já em sua gestão, e com Bolsonaro eleito presidente da República, a medalha foi finalmente concedida.
Foi o próprio Villas Bôas quem entregou pessoalmente a honraria a Bolsonaro. Na ocasião, o então presidente declarou, em entrevista, que solicitou a medalha no momento em que as acusações por racismo começaram a se “avolumar”.
A Medalha do Pacificador com Palma é uma das mais altas distinções do Exército brasileiro e é destinada a militares que, em tempo de paz, tenham realizado atos de “abnegação, coragem e bravura, com risco da própria vida”.