Sexta-feira, 03 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de outubro de 2025
Só em 2024, o Brasil registrou 31.735 acidentes envolvendo serpentes peçonhentas e 127 mortes, de acordo com dados do Ministério da Saúde (MS) obtidos pelo Instituto Butantan. Os principais afetados são trabalhadores rurais. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se de uma doença tropical negligenciada.
De acordo com Ceila Malaque, infectologista do Hospital Vital Brazil (HVB), do Instituto Butantan, a principal recomendação é visitar um hospital o mais rápido possível, a fim de evitar complicações. As reações costumam se agravar cerca de seis horas após as picadas. A médica ressalta que o serviço médico deve ser procurado mesmo quando há a suspeita de que a serpente não seja venenosa.
Para ter ideia, picadas de serpentes do gênero Bothrops costumam causar, inicialmente, inchaço e dor. Mas, se o atendimento é atrasado, há risco de necrose e até de amputações. A jararaca (responsável pela maioria dos casos no Estado de São Paulo), a jararacuçu, o urutu e a surucucu são exemplos de espécies desse grupo.
A infectologista Jessica Ramos, do Hospital Sírio-Libanês, cita que, antes de chegar no hospital, é importante manter a calma e imobilizar a área afetada para impedir a circulação do veneno.
Tanto ela quanto Ceila destacam que técnicas caseiras, como realizar torniquetes, tentar fazer sucções, jogar cachaça para ‘limpar’ a ferida ou até beber álcool para neutralizar o veneno, não são eficazes. Essas estratégias podem, na verdade, agravar a situação.
“Tem gente que faz cortes para chupar o veneno, mas isso não funciona, porque ele é inoculado mais profundamente. E a picada de algumas cobras, como a da jararaca, pode causar alterações na coagulação do sangue. (Ao fazer isso), os pacientes ficam mais dispostos a sangramentos, além de abrir espaço para infecções (devido a bactérias presentes na boca)”, esclarece Ceila.
Jessica cita ainda que o torniquete pode causar isquemias. “Ele impede a chegada de irrigação sanguínea e, com isso, pode ocorrer necrose, piorando as lesões”, aponta.
Tire foto
Em casos de picadas de escorpiões e insetos de pequeno porte, o recomendado é tentar colocar os animais dentro de um recipiente, desde que não envolva riscos, para que os especialistas possam identificar a espécie e, a partir disso, realizar o tratamento adequado.
No caso das cobras e serpentes, é difícil conseguir levar o animal até o local de atendimento. Mas Ceila destaca a importância de fotografá-lo. “Sempre que possível, tire uma boa foto, isso pode ajudar. Às vezes, a picada pode ter sido causada por uma serpente de espécie que não apresenta tantos riscos médicos”, comenta.
Caso não consiga tirar uma foto, ficar atento a cor e as características físicas da serpente pode ajudar no atendimento.
Região Norte
Em 2024, a região Norte apresentou mais casos de acidentes com cobras: 9.400 registros, o que significa 50 ocorrências para cada 100 mil moradores, quase três vezes a média do País. O Pará aparece no topo, com mais de 5 mil vítimas, seguido por Minas Gerais (3.357) e Bahia (3.089).
No mesmo período, o Estado de São Paulo registrou 2.133 casos de picadas por serpentes peçonhentas, segundo o Painel Epidemiológico do Ministério da Saúde, dados também obtidos pelo Butantan.
Jararacas estiveram envolvidas em 61% dos casos. Grande parte dos episódios aconteceu em regiões vizinhas a florestas tropicais densas, ambientes caracterizados por chuvas abundantes, vegetação fechada e clima quente e úmido. Mas vale destacar que as serpentes do gênero demonstram capacidade de adaptação também em áreas mais secas.
Como é o tratamento?
Segundo Ceila, o paciente deve passar por uma avaliação clínica detalhada no hospital, com checagem de sinais vitais e análise de possíveis manifestações de envenenamento. Nem toda picada resulta na inoculação de veneno, mas apenas um exame médico pode confirmar isso.
Caso haja sinais de envenenamento, o soro antiveneno é aplicado. “(Ele) é colocado para neutralizar o veneno antes que comece a causar complicações nos outros órgãos e sistemas do corpo, como deficiência nos rins, alteração da coagulação, o que favorece sangramentos, e daí por diante”, detalha Jessica.
Depois disso, o paciente deve permanecer internado por pelo menos 24 horas, período em que são feitos exames laboratoriais e monitoramento de possíveis complicações, como infecções, necrose, problemas renais ou sangramentos.
(Com O Estado de S.Paulo)