Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de abril de 2023
A forte desvalorização do peso argentino em relação ao dólar – nesta semana, a cotação da divisa americana chegou a quase 500 pesos – provocou uma verdadeira invasão de turistas brasileiros, uruguaios, paraguaios, chilenos, colombianos, bolivianos e venezuelanos à Argentina.
Enquanto os turistas estrangeiros fazem a festa em hotéis, restaurantes e comércios de Buenos Aires, os argentinos tentam se desfazer dos pesos o mais rapidamente possível, pelo temor, cada vez mais forte, de uma escalada de preços que possa arrastar o país para uma nova hiperinflação — a última foi em 1989.
O peso barato frente ao real e na comparação com as principais divisas dos países vizinhos tem feito a festa dos turistas em áreas turísticas como Bariloche, El Calafate e Ushuaia. E também em regiões da fronteira, onde brasileiros, uruguaios, paraguaios, chilenos e bolivianos atravessam diariamente para abastecer seus carros e fazer compras.
No Uruguai, informou o jornal El País, são organizadas excursões para compras na Argentina. Na província de Misiones, que faz fronteira com o Brasil e com o Paraguai, representantes da Câmara de Postos de Gasolina estimam que os preços de combustíveis na região estão 40% abaixo dos cobrados no Brasil, e 50% mais baratos do que custa encher um tanque no Paraguai.
A avalanche de carros dos países limítrofes levou os governos regionais a estabelecerem um limite de venda de 20 litros de combustível por pessoa.
Na capital, a presença estrangeira é cada dia mais expressiva. Na famosa rua Florida, os turistas latino-americanos estão por todos os lados, comprando tudo o que encontram a preços mais em conta do que em seus países.
Malas extras
Para os brasileiros, o produto do momento é, sem dúvida, o vinho. Garrafas de marcas conhecidas no Brasil como Catena Zapata se conseguem em Buenos Aires por menos da metade do preço cobrado em supermercados brasileiros, conta a engenheira química carioca Teresa Borges, recém-chegada da província de Mendoza, onde visitou vinícolas com um grupo de amigos.
Já no primeiro dia na capital argentina, o grupo foi fazer compras no shopping Galerias Pacífico, no centro da cidade, onde conseguiu perfumes a preços muito em conta para um brasileiro.
“Quando o dólar bateu 500 pesos foi uma loucura. Fazíamos as contas e não conseguíamos acreditar. O táxi do aeroporto metropolitano até o hotel custou apenas R$ 35”, comenta a secretária Cida Amazonas, que, como seus amigos, pretende voltar ao Rio com a mala carregada de garrafas de vinho.
No total, cada turista pode levar 18 garrafas, das quais 12 devem ser despachadas.
“Já compramos malas extras. Trouxemos vinhos de Mendoza e aqui em Buenos Aires vamos comprar mais. Os restaurantes também estão muito baratos, vamos jantar no Don Julio”, disse Teresa, ao lado de seu filho, Thiago Borges, que pedia insistentemente para comprar um casaco de couro argentino.
A venezuelana Victoria Rojas, que mora atualmente na Colômbia, veio a Buenos Aires visitar familiares que emigraram para a Argentina e passear.
“Os preços estão realmente muito baixos, sobretudo o transporte e a gastronomia”, relatou Victoria, enquanto passeia com seus filhos pelo centro da capital argentina.
No primeiro trimestre de 2023, dados oficiais indicam que 1,9 milhão de turistas estrangeiros entraram ao país, quase o dobro do 1 milhão que visitaram a Argentina no mesmo período de 2022. Entre janeiro e março, os turistas estrangeiros injetaram US$ 1,5 bilhão na economia argentina.
O inferno astral de Fernández: Argentina enfrenta ao mesmo tempo disparada do dólar e da inflação e a maior seca desde 1929
— Estamos sobrevivendo graças ao turismo — desabafa a vendedora de calçados Julieta Fernández, que trabalha numa loja da rua Florida.
Ela disse atender diariamente muitos turistas latino-americanos, e destaca o elevado nível de consumo das mulheres uruguaias.
“Tivemos uma cliente que comprou seis pares de sapatos, porque disse que os preços eram muito mais baratos do que no Uruguai. Ela trocou US$ 5 mil quando chegou em Buenos Aires e depois não sabia o que fazer com tanto dinheiro, nem onde guardar tantas notas”, comenta Julieta.